Resumo |
Tencionamos, por intermédio da análise de enunciados de fidelização religiosa, delinear algumas considerações a respeito da estrutura aspectual e, por conseguinte, passional do crer, considerando o aspecto fiduciário envolvido nessa prática católica. Buscamos observar o status da dimensão passional do discurso, na medida em que a paixão presentifica, no seio do discurso de acolhida, um conjunto de dados ao mesmo tempo tensivos e figurativos (GREIMAS; FONTANILLE, 1993, p. 56). Procuramos examinar os mecanismos de produção do efeito de sentido afetivo ou passional depreensível do rito da missa enquanto prática ritualística sacramental católica. Dentre os enunciados pertencentes à prática de fidelização própria ao domínio religioso católico, estabelecemos como recorte analítico o folheto litúrgico (suporte do rito eucarístico), também denominado semanário litúrgico catequético. Temos, ainda, como objeto de estudo a noção de práticas semióticas empreendida por Fontanille (2008), bem como os desenvolvimentos de Blanco (2008). Ampliaremos as proposições de Blanco, que procurou tratar o rito da missa enquanto uma prática ritual. Para isso, realizamos a inclusão do folheto litúrgico, objeto-suporte do rito eucarístico. Dentre os folhetos litúrgicos em circulação no domínio religioso católico, estabelecemos como recorte o folheto O Povo de Deus em São Paulo, publicação da Mitra Arquidiocesana de São Paulo. A Arquidiocese de São Paulo constitui uma circunscrição da Igreja Católica no Brasil, Sé Metropolitana da Província Eclesiástica de São Paulo, pertence ao Conselho Episcopal Regional Sul I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A formação discursiva, como sistema de crenças e aspirações, fundado em figuras e temas de determinado discurso, e a escolha de recursos relativos à gramática da língua se refletem na incorporação de um éthos dogmático, o que permite caracterizar os enunciados de fidelização, definindo-os segundo os parâmetros da prática religiosa católica, como gêneros de fronteira entre a divulgação e a fidelização religiosa, que julgamos por bem nomeá-los como pertencentes à experiência da Palavra. Esses gêneros são voltados para arrebanhar mais e mais fiéis no exercício da própria fidelização. Ao éthos da resignação associamos o sujeito (fiel) dominado e subjugado pela instituição religiosa e as suas práticas instituídas sob a aparência da unidade. Por sujeito resignado, está o sujeito submisso a essas práticas ritualísticas e que a elas deve se submeter a fim de obter a salvação. |