Resumo |
O trabalho com a gramática em cursos comunicativos de línguas estrangeiras consistiu, ao longo da história do desenvolvimento dos diversos métodos e abordagens, em elemento especialmente expressivo no processo de ensino/aprendizagem. Quer seja pela completa rejeição à menção à gramática por parte de alguns, quer seja pela priorização de explicitações metalinguísticas por parte de outros, a gramática nunca passou desapercebida. O estudo do valor ou peso que aprendizes de LE dedicam à gramática no contexto maior das aulas que frequentam, no marco teórico dos estudos de crenças, calcados em postulados construtivistas e sociointeracionistas, mostra-se especialmente revelador, ao trazer à tona indicadores acerca do valor e importância que atribuem a esse tipo de conteúdo em curso, revelando, ainda, dados sobre suas experiências prévias com o estudo de gramática, ou com a explicitação e pedagozização de conteúdos de cunho gramatical em aulas de LE. Nesta apresentação, serão revelados ao público resultados de uma pesquisa-ação empírica conduzida junto a estudantes de alemão numa instituição de ensino que denomina sua proposta pegagógico-metodológica "pós-comunicativa, construtivista e sociointeracionista". O objetivo dessa pesquisa foi identificar, junto aos informantes, qual o seu recorte dos componentes de tais aulas (pós)comunicativas. Uma vez que no curso em questão se emprega material didático comunicativo, onde os conteúdos de natureza gramatical são apresentados e propostos como decorrentes de intenções de fala e como ferramentas para viabilizar a enunciação, esse trabalho é frequentemente implícito e, várias vezes, não se lança mão de metalinguagem para sublinhar as estruturas gramaticais subjacentes à realização discursiva. Assim, propusemos aos aprendizes a questão "Was hast du heute gelernt?", correspondente, no português, a "o que você aprendeu/estudou hoje?". Foram distribuídas entre os alunos pequenas fichas onde deveriam, ao final de algumas aulas, listar, na forma de breves tópicos, aquilo que estudaram ou aprenderam a fazer com a língua a partir das atividades do dia. O resultado denunciou uma acentuada valorização da gramática em aula, mesmo no caso de encontros nos quais ela figurou de forma marginal e totalmente implícita. A menção às quatro habilidades (ler, falar, escrever, ouvir-entender) a às temáticas inter e transculturais foi insipiente, denunciando a supervalorização da gramática. Esses resultados vão de encontro a pesquisas que nos antecedem neste âmbito e apontam o trabalho com gramática de língua materna na fase escolar, amplamente metalinguístico em vez de epilinguístico, como provável origem e causa desse tipo de recorte reducionista que os aprendizes realizam do conteúdo das aulas. |