Resumo |
O trabalho, baseado nos postulados da Estilística da palavra (a parte da Estilística que se detém na escolha e na formação de palavras e nos seus efeitos estéticos), pretende mostrar, por meio de criações lexicais encontradas em poemas de Manoel de Barros, não só a polissemia do prefixo des- quando se junta a bases verbais, adjetivais e substantivais como também os neologismos semânticos. Segundo Martins (1997), A Estilística léxica ou da palavra estuda os aspectos expressivos das palavras ligados aos seus componentes semânticos e morfológicos, os quais, entretanto, não podem ser separados dos aspectos sintáticos e contextuais (p.71). Partindo do material linguístico de poemas de Manoel de Barros, mostrarei de que maneira esse autor aproveita-se das virtualidades do sistema para manifestar sua criatividade, ou seja, quais são os processos envolvidos nessas criações e quais são os efeitos estilísticos e os efeitos de sentido obtidos. O corpus analisado será composto de poemas de 8 livros do autor, a saber: Poemas concebidos sem pecado (1937), Face imóvel (1942), Poesias (1947), Compêndio para uso dos pássaros (1960), Gramática expositiva do chão (1966), Memórias inventadas (a infância) (2003), Memórias inventadas (a segunda infância) (2006) e Memórias inventadas (a terceira infância) (2008). Como se verá em suas criações, o prefixo des- possui outros significados além dos já dicionarizados como negação (obedecer/desobedecer), oposição (contente/descontente), falta de (apetite/desapetite); o prefixo des- exprime também as ideias de mudança (ver/desver), de anterioridade (fazer/desfazer), de deixar de (acelerar/desacelerar). Toda essa polissemia do prefixo des- e seus encontros inesperados com verbos (deseliminar), adjetivos (desaldeiado) e substantivos (desobjeto) assim como os neologismos semânticos tornam a poética de Manoel de Barros fortemente expressiva, o que contribui para seu estilo. Verificar-se-á ainda, na apresentação deste trabalho, se Manoel de Barros inova e amplia os sentidos do prefixo des- ou se ele apenas amplia as palavras da língua portuguesa brasileira, movimentando-a com suas criações e reformulando os dados de nossa experiência, de nossa visão de mundo. |