Resumo |
Esta comunicação abordará o emprego dos sinais diacríticos circunflexo e agudo, presentes na escrita de documentação jurídica dos séculos XVIII e XIX: autos de devassa e processos criminais do Estado de São Paulo, depositados no acervo do Arquivo do Estado de São Paulo.
A análise diplomática dessa documentação será o enfoque da primeira parte de nossa exposição, que se concentrará em verificar como eram registradas as informações e sua transmissão aos tabeliães e escreventes, responsáveis pela escritura dos fac-símiles. A partir dessa análise, hipotetizaremos sobre o processo de escrita da época, ao verificar parâmetros em que se baseavam os escribas para redação de seus textos.
Além da visualização das estruturas formais dessa documentação também destacaremos aspectos socieconomicos da estruturação e organização do sistema judiciário no Brasil Colônia e Império. A conjugação desses dois olhares, com diplomática e relações socioeconômicas, permitirá retratar um pouco melhor quais seriam os conhecimentos linguísticos desses escribas.
Em um segundo momento, levantaremos hipóteses de ordem prosódica e fonológica sobre usos dos sinais diacríticos encontrados nessa documentação, que permitirá surpreender usos de determinados diacríticos que não ocorrem em documentos coetâneos ou mesmo posteriores. Exemplos dessas ocorrências se dão em <proprietarêo>, <pessoa> encontradas em manuscrito de 1773, mas não repetidas em documentos posteriores como é o caso de <pessôa> cuja aposição do diacrítico sobre o ditongo crescente se deu em documento de 1881, mas, ainda assim, não foi encontrado nos demais documentos do mesmo século.
Acrescentamos que, o positivismo teve forte influência na escrita brasileira, em meados do XIX ao início do XX, e os documentos oficiais, afetados por essa filosofia trazem vestígios de tais mudanças. Para além dessas mudanças políticas e ideológicas, havia igualmente uma tentativa de uniformizar a escrita, visando à universalização e simplificação do ensino da língua portuguesa.
Dadas as considerações expostas, i) buscaremos na literatura da época, em obras como Grammatica philosophica da lingua portuguesa, de Jeronimo Barbosa Soaraes e Orthographia ou Arte de Escrever e pronunciar com acerto a Lingua Portugueza (1734), de Madureira Feijo, as definições e aplicações desses diacríticos e a possível relação com as formas escritas. Em paralelo, ii) analisaremos o contexto social que poderia ter influenciado o pensamento e, consequentemente, o estabelecimento de formas e modos de aquisição e escrita. Dessa forma, as políticas de ensino e os diferentes pensares dos linguistas das respectivas épocas serão os pilares de nossas buscas, conjugadas com a análise dos dados recolhidos. |