Resumo |
O presente trabalho analisa as marcas de subjetividade expressas nos traços estilísticos e nos modos de enunciação presentes nos poemas metalinguísticos Muitas Vozes, de Ferreira Gullar, e O soco da poesia, de Ésio Macedo Ribeiro, bem como a construção de um ethos discursivo. O presente estudo se apresenta em diálogo com o grupo de pesquisa Estudos Estilísticos, da Universidade Cruzeiro do Sul, que propôs desde o fim do segundo semestre de 2012, o projeto Da Retórica à Estilística, abrangendo os estudos de estilo desde a Retórica ao surgimento da Estilística, no início do século XX. Nesse sentido, a fim alinhar-se à pesquisa desse grupo, os dois poemas analisados contaram, como aparato teórico, com a Teoria da Enunciação e da Análise do Discurso de linha francesa em diálogo com a Estilística, mais propriamente a Estilística Discursiva, a fim de analisar como os elementos estilísticos de cada poema, passando pelas microestruturas do texto (os níveis fônico, lexical, sintático), vão revelar, no plano da enunciação, o modo pelo qual o sujeito (no caso, eu lírico) se apropria da língua e a coloca em funcionamento. Entre os teóricos, citados neste trabalho estão Bally, Matoso Câmara, Benveniste, Martins, Maingueneau e Amossy. Em Muitas Vozes, a experiência do eu lírico expõe um fazer poético que emerge de uma pluralidade de vozes que, mesmo fossilizadas, podem ser acionadas a qualquer momento, tornando o diálogo poético possível. Assim, o ethos discursivo que se configura no poema recai sobre o outro, fazendo com que o destinatário procure aderir a um tipo de comportamento poético que reconhece o diálogo com enunciados anteriores. No poema O soco da poesia, de Ésio Macedo Ribeiro, o grau de tensão do fazer poético instaura a insistente dificuldade de transformar a realidade em poesia, ou seja, depreende-se que o ethos construído neste poema configura um discurso que põem em relevo a dificuldade do fazer poético. |