Resumo |
Tópicos que juntam a semiótica com a retórica rendem, teórica e analiticamente, no âmbito da problematização do corpo discursivo, tal como processado em distintas práticas sociais. Assim, distintos gêneros discursivos cotejados entre si, como uma fábula (La Fontaine), uma charge (Folha de S. Paulo) e um poema (Cecília Meireles), serão observados, enquanto remetem a diversas possibilidades de depreensão de uma figura retórica: a prosopopeia. Essa figura, consoante à esfera de comunicação, ao estilo do gênero e ao estilo autoral, será firmada segundo a função de figura-argumento, ou de figura-acontecimento, o que supõe variações no contrato de confiança estabelecido entre enunciador e enunciatário, e o que remete à possibilidade de pensar-se numa cifra que, segundo o impacto do sensível, registra a modulação tensiva da própria figura retórica. Para isso, é pensado como e por que o lógos, como palavra em que fica radicado o éthos, impregna-se de uma estesia peculiar, esta que, sob valência plena do sensível sobre o inteligível, permite que a função poética da linguagem se manifeste em altos graus de coerção. No caso da valência plena de incidência do sensível sobre o inteligível, pode vir à luz o ambiente semântico e tensivo apropriado para o trato dado à figura retórica na sua função de figura-acontecimento, o que fica viabilizado no texto literário. O contrário se dá em esferas de comunicação das quais emergem a charge política e a fábula. Essas esferas oferecem condições para a definição da função de argumento para a figura retórica. Procurando semiotizar a retórica, por meio da problematização das funções discursivas de figuras como a prosopopeia, acabaremos também por promover a retoricização da semiótica. Com isso, discute-se o dito para aquém da superficialidade textual, e confirma-se o sujeito que, como éthos discursivo, está no limiar entre o estilo de gênero e o estilo autoral. |