Resumo |
A redação se tornou obrigatória em vestibulares nacionais por meio do Decreto n. 79.298, promulgado em 24 de fevereiro de 1977. Desde então, todo processo seletivo para ingresso no ensino superior nacional, seja ele público ou privado, exige de seus candidatos a produção de um texto escrito. Tradicionalmente, o candidato deve produzir uma dissertação ou, em alguns casos, outros textos prioritariamente argumentativos, como uma carta de leitor ou artigo de opinião. Mais recentemente, outras propostas surgiram no cenário nacional, como, por exemplo, a da Universidade Federal de Campina Grande e a da Universidade Estadual de Campinas, cujas provas de redação solicitam que o candidato desenvolva textos em gêneros diversos, como manifesto, depoimento, verbete de enciclopédia eletrônica, entre outros. Considerando este contexto especifico de produção textual, alguns autores (cf. Brito, 2011; Pilar, 2011) defendem que para além do gênero (ou tipo de texto) contido na proposta (uma dissertação, uma narrativa, um verbete), existe um gênero que é o redação de vestibular. Na medida em que um texto tem seu significado atrelado não apenas aos seus traços estritamente linguísticos (estrutura textual, léxico, sintaxe), mas também ao contexto social de uso (enunciadores e co-enunciadores previstos, função social, esferas de circulação), pensar a redação de vestibular como um gênero se justifica exatamente pelo seu contexto social de uso tão bem definido. Este trabalho assume tal perspectiva teórica e tenta apresentar mais um argumento que demonstraria que a redação de vestibular pode ser entendida como um gênero: a hipótese a ser apresentada é a de que aquilo que o candidato produz e que o examinador avalia é uma cenografia (Maingueneau, 2004), uma superfície textual que simula um determinado gênero. No entanto, o que mobiliza tanto os escreventes quanto os examinadores é o gênero redação de vestibular. Isto é, os parâmetros de produção e avaliação são dados, acima de tudo, pelo gênero redação de vestibular (onde circula, com que propósito, etc). Para embasar esta proposta, serão analisadas algumas provas de redações de grandes vestibulares nacionais e alguns critérios de correção, mobilizando tanto a teoria dos gêneros, tal como apresentada por Bakhtin, quanto a proposta de cena enunciativa, tal como apresentada por Maingueneau.
(Apoio: Fundação Vunesp) |