Resumo |
Nessa comunicação são apresentados os resultados de uma pesquisa que investiga, em textos produzidos entre o século XVIII e início do XX, a colocação pronominal em contextos de verbos infinitivos precedidos de preposição, procurando traçar o perfil do registro culto da modalidade escrita que vinha se impor no período de formação do vernáculo. Para isso, tem-se como objeto de estudo cartas dos aldeamentos paulistas (Kewitz e Simões) e cartas de diferentes regiões brasileiras (Carneiro, 2011) escritas entre 1820 e 1910.
O trabalho objetiva traçar um quadro da colocação pronominal nas orações infinitivas preposicionadas a partir da proposta da sociolinguística variacionista. Nesse sentido, serão avaliados fatores linguísticos (tipo de preposição e tipo de pronome) e fatores extralinguísticos.
A análise interpretativa dos dados toma como ponto de partida os resultados de Pagotto (1993, 1998) que, ao analisar os textos da constituição imperial e da republicana, verificou forte incidência de ênclise no segundo documento, em discordância da tendência observada para o vernáculo. O emprego da ênclise na constituição republicana foi interpretado como uma atitude por parte da elite de adotar o Português Europeu como modelo lingüístico.
Centrando a atenção nas infinitivas precedidas de preposição, Oliveira (2011), ao comparar cartas pessoais de escritores portugueses e brasileiros, observou que os portugueses usam categoricamente a ênclise na presença da preposição a e tendem a usar a próclise para as demais preposições. Os escritores brasileiros da metade do século XIX privilegiam a ênclise com todas as preposições e os do final do século tendem para o uso da próclise.
Este trabalho dialoga com os trabalhos citados e mostra que o padrão enclítico nas infinitivas preposicionadas do padrão culto escrito se fixa no período imediatamente seguinte à independência política, ainda que não esteja marcadamente presente na constituição imperial. Esses resultados apontam para o esforço da elite intelectual de se afastar linguisticamente dos portugueses ao mesmo tempo em que sugerem uma polêmica sobre a colocação pronominal a ser adotada no país independente, haja vista que os romancistas tendem à próclise e os intelectuais, a ênclise.
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