Resumo |
O presente estudo tem como objetivo analisar a alternância entre o uso do pronome oblíquo e o seu apagamento na construção reflexiva do Português Brasileiro (doravante PB) como elemento sintático-semântico inovador frente ao Português Europeu (doravante PE). Tal fenômeno contribui na estruturação e, consequentemente, nas imbricações discursivas do gênero Memória. Para tanto, o locus de pesquisa escolhido foi uma escola pública do Distrito Federal, pois, durante o ano de 2013, os alunos, ao produzirem o gênero Memória, fizeram o uso de construções reflexivas prototípicas do PB (pronome pessoal + pronome obliquo específico + verbo), porém, em várias ocorrências, os estudantes utilizaram a construção com o apagamento do pronome oblíquo. Nesse sentido, nossa hipótese é de que a alternância de usos dessas estruturas ocorre devido ao processo de erosão, nos termos de Lehmann (2002), da estrutura reflexiva no gênero Memória, o que sugere um estágio de gramaticalização avançado. Uma das condições de produção do gênero em questão é a exposição de fatos vividos pelo produtor do texto. Por isso, o uso de pronomes de primeira pessoa é recorrente. Assim, o falante, para evitar a repetição, apaga o pronome oblíquo. Essa possível estratégia indica também a relação entre frequência do uso do item e seu processo de gramaticalização (BYBEE & HOPPER, 2001). Diante do exposto, o quadro teórico-metodológico desta pesquisa é a sintaxe funcional-tipológica (HASPELMATH, 2007; DELANCEY, 2001; COMRIE, 1981; CROFT, 1990). Esta observa, analisa e constrói tipologias das línguas naturais conforme os usos, a interação e a intenção comunicativa dos falantes. Nessa linha, a translinguística a comparação das estruturas e usos entre diferentes línguas pode ser feita. Além desse arcabouço básico, são utilizados trabalhos funcionalistas que contemplam o espectro sintático-semântico da construção reflexiva (CAMACHO, 2002) e da gramaticalização, sobretudo Hopper (1987, 1991); Heine, Claudi e Hunnemeyer (1993); Hopper e Traugott (1993) entre outros. Aliada a essas concepções, este trabalho traz referências acerca dos gêneros do discurso (BAKHTIN, 2000; MARCUSCHI, 2005; SCHNEUWLY e DOLZ, 2004), do gênero Memória (Altenfelder e CLARA, s.d; OLIVEIRA, SILVA E SILVA, 2010) e do ensino ligado às contribuições sociolinguísticas (BORTONI-RICARDO, 2004). A partir dessas considerações, é possível afirmar que o estudo em tela contribuirá para o ensino de língua portuguesa por analisar os usos da reflexiva no PB, bem como por tecer a relação entre sintaxe e gêneros do discurso. |