Resumo |
Em 1415, os portugueses conquistam Ceuta sob o comando do rei D. João I: é a primeira de uma série de conquistas que os leva gradualmente em contato com as populações bérberes e árabes da costa norte-ocidental da África. A presença portuguesa nesta área permanecerá pelo menos até 1578, data da derrota de Alcácer-Quibir e começo da críse dinástica que levará à União Ibérica. Tais eventos políticos tiveram
consequências culturais que são frequentemente esquecidas pelos estudiosos da língua. Um aspecto fundamental da convivência entre marroquinos e portugueses como a
comunicação não constituiu, até agora, objeto priorizado de investigação e descrição. O que se falava nas praças-fortes portuguesas naqueles anos? Como acontecia a comunicação entre islâmicos e cristãos, pertencentes a duas culturas cujas línguas são tipologicamente diferentes?
Esta pesquisa tem portanto como objetivo investigar o resultado linguístico do contato entre portugueses e marroquinos no norte da África entre os séculos XV e XVI.
Nomeadamente, pretende-se sistematizar as informações existentes sobre o contexto histórico, evidenciando a situação político-econômica e sócio-cultural, e destacar os âmbitos de contato linguístico. O conhecimento destes dados ajudará na formulação de hipóteses sobre a forma de comunicação mais apropriada para cada âmbito.
Para cumprir com este objetivo, em primeiro lugar será necessário compilar um catálogo das obras a serem estudadas como parte do corpus de pesquisa. Este será composto inicialmente por Crônicas em língua portuguesa dos séculos XV e XVI, e será ampliado com outros textos ao longo do tempo. Julgamos fundamental a inclusão no nosso corpus de documentos de chancelaria e eventuais obras de caráter literário referentes ao período evidenciado. Não desconsideramos também a possibilidade de existirem outros documentos não oficiais, eventualmente divulgados no âmbito de estudos contemporâneos sobre a presença portuguesa em Marrocos. A fase final da pesquisa consistirá na reflexão sobre as leituras efetuadas, com a formulação de hipóteses
mais precisas sobre os fenômenos linguísticos resultantes do contato, e com o objetivo principal de fornecer sugestões para estudos futuros.
O nosso método de análise combinará uma leitura historiográfica dos textos ao recurso à reconstrução segundo o paradigma indiciário comentado em Ginzburg (1989:177): se a realidade é opáca, existem zonas privilegiadas- sinais, indícios- que permitem decifrá-la. Na fase de reflexão conclusiva, finalmente, serão empregados teorias e
conceitos próprios da Linguística de Contato. |