Resumo |
A linguista francesa Alice Krieg-Planque analisou os modos como o sintagma purificação étnica circulou a partir dos anos 1990 em jornais franceses em matérias sobre os conflitos étnicos na antiga Iugoslávia. A partir de seus estudos, apoiados em grande parte nas propostas de Jacqueline Authier-Revuz sobre as formas e os campos de representação da heterogeneidade enunciativa, estabeleceu como critérios para que um sintagma possa ser considerado uma fórmula: a) se caracterizar por uma forma linguística cristalizada; b) se inscrever numa dimensão discursiva; c) funcionar como um referente social e, d) comportar um aspecto polêmico. Com base em Krieg-Planque (2009, 2010) e nos pressupostos teóricos da Análise do Discurso francesa, mais especificamente os conceitos de ethos e cenografia desenvolvidos por Maingueneau (1984/2007; 2008; 2010), proponho analisar a fórmula desenvolvimento sustentável no discurso da ex-senadora Marina Silva em dois momentos recentes da história política e eleitoral nacional: nas eleições presidenciais de 2010, nas quais foi candidata pelo Partido Verde (PV), tendo obtido o terceiro lugar com 19,33% dos votos válidos; e por ocasião do lançamento do novo partido denominado Rede Sustentabilidade, em fevereiro último. Parte importante do que se pode chamar de um método para estudo das fórmulas consiste em olhar para a metalinguagem dos atores sociais envolvidos na sua circulação. Assim, acredito que conciliar os conceitos de cenografia e ethos que remetem à instância enunciadora do discurso, envolvendo o estudo das modalidades, do estatuto de enunciador e co-enunciador postulados no discurso, da cena de fala que o próprio discurso constrói e ao mesmo tempo o legitima às formas de aparição do sintagma desenvolvimento sustentável na metalinguagem de Marina Silva e dos demais enunciadores mobilizados por sua fala, pode ser produtivo para a leitura desse discurso. Pode permitir também um maior entendimento do processo por meio do qual as mídias contribuem para colocar em circulação fórmulas que, por sua vez, condensam discursos, comprovando que o léxico não é somente um problema de língua, mas algo que, sendo da ordem da língua, é também da ordem do discurso. Sabemos que o discurso dominante na cena política brasileira contemporânea se caracteriza pela variabilidade do que seria sustentável em função da ausência de questionamentos acerca do primeiro termo do sintagma, o desenvolvimento. Espera-se que a análise possa ajudar a compreender se o posicionamento de Marina Silva, conhecida internacionalmente por sua atuação como ambientalista, representa ou não uma nova perspectiva nesse debate. |