Resumo |
Inicialmente pouco presente nos centros de interesse da semiótica greimasiana dos anos 1970, a enunciação traz em seu bojo aspectos que apenas posteriormente puderam ser reintegrados aos estudos semióticos. Reinserido no escopo de preocupações da semiótica do discurso contemporânea, o estudo da enunciação como construção em ato trouxe consigo a necessidade de um recorte que pudesse ser submetido à análise, ainda que por pressuposição: a práxis enunciativa. Ligada à noção de uso, a práxis enunciativa atua como elemento regulador da enunciação individual (em sua singularidade), submetendo-a às coerções da memória cultural de uma dada sociedade ou comunidade linguística (em sua impessoalidade), assegurando, assim, a inteligibilidade de seus enunciados. No entanto, longe de limitar completamente o exercício da enunciação individual, a práxis enunciativa possibilita que o enunciador não somente retome enunciados (os produtos do uso), mas que, ao convocá-los, possa refutá-los, revogá-los ou transformá-los nas palavras de Denis Bertrand atualizando-os e, assim, estabelecendo uma dinâmica de sedimentação e inovação das estruturas significantes. A práxis enunciativa apresenta-se, pois, como uma noção essencial para a compreensão das práticas semióticas, tal como figuram na hierarquia dos níveis de pertinência semiótica, formulada por Jacques Fontanille. Constitutiva do percurso gerativo do plano da expressão, essa hierarquia é composta por seis níveis de pertinência da experiência semiótica, que vão dos signos às formas de vida, isto é, do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto, enquanto elaborações progressivas da experiência semiótica. Por se configurar como uma cena a cena predicativa o nível das práticas nos permite analisar as mútuas implicações entre os regimes e as operações constituintes da práxis enunciativa e a programação estabelecida nas práticas semióticas, as quais, ao permitirem a narrativização da situação semiótica, remetem-nos à sua instância pressuposta: a enunciação. Assim, com base nas contribuições de A. J. Greimas, J. Fontanille, C. Zilberberg e D. Bertrand, este trabalho tem como objetivo propor uma reflexão sobre os conceitos de práxis enunciativa e práticas semióticas, em suas definições e articulações. (Apoio: Capes) |