Resumo |
A proposta deste trabalho é discutir o que se entende por dislexia e por disgrafia partindo, primeiramente, de um levantamento preliminar de textos científicos a respeito do tema. Em seguida, apresentamos segmentos de encontros que ocorreram entre uma linguista e dois irmãos, uma menina de nove anos e um menino de 11 anos, cujos diagnósticos médicos são, respectivamente, dislexia e disgrafia. Trazemos uma reflexão sobre esses problemas de linguagem considerando o que encontramos a respeito nos campos da fonoaudiologia (DEUSCHELE, CECHELA, 2009; MASSI, 2005, 2007 e 2008), da psicanálise (POMMIER, 2011) e da linguística (COUDRY; SABINSON, 2001; DE LEMOS, 1995, 1998). A dificuldade da criança na leitura/escrita pode ser originada, por exemplo, por problemas de consciência fonológica, tomada como pré-requisito para a aquisição da leitura e da escrita. Nesse caso, muitos teóricos defendem que, pelo fato de a criança não responder (bem) aos estímulos de leitura e de escrita que lhe são apresentados, haveria indicação da existência de alterações em áreas cerebrais específicas e, muitas vezes, o envolvimento de um fator genético concomitante. No entanto, para a grande maioria dos linguistas, os problemas em lidar com a materialidade da língua são parte do processo de aquisição da linguagem escrita e não poderiam ser rotulados como patologias. Outra interpretação para os erros da criança na escrita/leitura, ou mesmo para o fato de ela não conseguir se alfabetizar e/ou ler textos de diferentes extensões, seria decorrente da posição subjetiva da criança em termos de sua captura pelo funcionamento linguístico-discursivo da escrita. Do ponto de vista da psicanálise, pode-se entender, ainda, o papel do desenho como precedendo a escrita, mas no sentido de que a criança, a partir de uma determinada posição subjetiva, considera que a imagem da letra deva ser apagada para que sobrevenha aquilo que pode ser lido, trtatando-se de uma condição dada pelo recalcamento. Nosso intuito, então, é o de perceber como cada um dessas diferentes abordagens veem a dislexia e a disgrafia, e, também, apresentar episódios de escrita e de leitura por parte de sujeitos diagnosticados com tais problemas e observar o modo como eles lidam com as atividades de leitura e escrita apresentadas. Consideramos que é possível ampliar a discussão a respeito da relação (sempre) singular sujeito-escrita quando há espaço para a questão da posição do sujeito em relação à escrita. |