Resumo |
A Análise Crítica do Discurso consiste em um campo de investigação linguístico-discursivo voltado, especialmente, à descrição e à análise da produção, consumo e distribuição de textos em relação à estrutura, às práticas e aos eventos sociais em que os agentes humanos se envolvem. Assim, a área, de caráter interdisciplinar, busca aliar Linguística, Psicologia Cognitiva, Sociologia, dentre outras ciências, a fim de promover estudos mais acurados e explicativos acerca da constituição do sentido em sociedade.
Dentre as teorias complementares à abordagem crítico-discursiva, a Linguística Sistêmico-Funcional, proposta por Halliday (1985), influenciou decisivamente o desenvolvimento da área, uma vez que a concepção de língua como potencial de significado de ênfase paradigmática instanciada em textos cultural e situacionalmente contextualizados, de modo a enfatizar as operações de escolha na produção de sentido, configurou um importante marco teórico para a concepção crítico-discursiva básica de que o sujeito, embora constrangido pelas ordens do discurso e pelas hegemonias discursivas, possui, potencialmente, a capacidade de resistir, incorporando a noção estruturacionista, proposta por Giddens (2009), de que a reprodução discursivo-social consiste em uma atividade reflexiva, ou seja, em um processo ativo, e não passivo, por meio do qual os atores sociais, ao monitorarem de forma recíproca sua conduta, atuam de forma a manter, contestar ou reelaborar as propriedades constitutivas da prática.
Segundo a abordagem sistêmico-funcional, todo texto é instanciado mediante uma prática social, apresentando uma multifuncionalidade intrínseca, já que faz emergir significados associados ao enunciado como representação (metafunção ideacional), como intercâmbio/negociação (metafunção interpessoal) e como mensagem (metafunção textual), cada qual caracterizado, primariamente, por uma rede de opções paradigmáticas associada a categoriais gramaticais responsáveis pela construção dessas perspectivas enunciativas. Assim, a transitividade seria o principal sistema responsável pela codificação da experiência de mundo, ou seja, da representação; os sistemas de modo e avaliatividade seriam os mecanismos centrais da construção das relações sociais e identitárias, isto é, da negociação; e os sistemas de Tema-Rema e Dado-Novo consistiriam nos principais eixos associados à construção do fluxo informacional, estabelecendo pontos de partida e núcleos informativos relevantes para a produção de enunciados inteligíveis.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar o potencial da Linguística Sistêmico-Funcional como ferramenta para a análise discursivo-textual no âmbito da Análise Crítica do Discurso, destacando a relação entre os contextos cultural e situacional e as metafunções linguísticas para a construção do sentido por meio da relação de codificação e realização entre os níveis léxico-gramatical e semântico-discursivo da linguagem.
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