Resumo |
No espaço escolar, as aulas de língua portuguesa, em geral, vêm focalizando, há tempos, as categorias linguísticas independente da necessária articulação entre gramática e discurso. O estudo da língua tem sido realizado a despeito das operações discursivo-enunciativas que suas categorias estabelecem nos textos submetidos à análise. Como categoria linguística, o substantivo, em particular, abordado com base na Tradição Gramatical tem sido analisado, quase que exclusivamente, em seu papel de designador, como um nome estritamente neutro. Por vezes, é até visto como qualificador, isto é, como um adjetivo, sendo estudado em sua função predicativa ou adnominal. No âmbito de uma abordagem discursivo-enunciativa, este trabalho, entretanto, objetiva examinar o substantivo, a despeito das funções predicativas e adnominais, segundo seu papel argumentativo, instaurador de um ethos discursivo (MAINGUENEAU, 2008) que o sujeito projeta de si mesmo no discurso. Para a elaboração da pesquisa, selecionamos, no quadro do domínio midiático, textos filiados ao gênero textual artigo de análise assinado e publicados, na última década, pelo Jornal do Brasil. Em termos metodológicos, examinamos, sob a ótica da Linguística da Enunciação ampliada aquela que se detém sobre as circunstâncias espaçotemporais e condições gerais de produção/recepção das mensagens e restrita a que diz respeito às opções discursivas assumidas pelo enunciador (KERBRAT-ORECCHIONI, 1980) o emprego do substantivo na confecção de um frequente procedimento linguístico do discurso midiático: a reenunciação de ditos populares. Ora servindo à construção de uma reenunciação parafrástica, ora se prestando à elaboração de uma reenunciação paródica, o substantivo assume papel marcante no jogo entre uma visão normativa e uma visão própria do sujeito argumentador. Na transição de nomeador a qualificador das categorias que o acompanham, o substantivo mostra-se como um nome altamente provocador da argumentação e revelador das manobras de um sujeito enunciador na constituição do ethos projetado. Com o intuito de investigar o papel argumentativo do substantivo e a imagem, a partir daí, elaborada pelo sujeito argumentador, assumimos o arcabouço teórico da Análise do Discurso de orientação semiolinguística de Patrick Charaudeau e da teoria do ethos em Maingueneau. Nesse estudo, discute-se o significado textual-discursivo (CHARAUDEAU, 2008) do substantivo, em consonância com a identidade do sujeito comunicante/enunciador e sua atuação (MAINGUENEAU, 2008) sobre o sujeito interpretante/destinatário. Essa problematização estabelece-se no âmbito do contrato de comunicação midiática e da funcionalidade do programa argumentativo instaurado pelo discurso estudado. |