Resumo |
Buscando compreender quais sentidos a temática da família coloca em funcionamento, especialmente numa prática de ensino de língua(gem) pautada no discurso polêmico (ORLANDI, 1993) como metodologia de ensino, é que nos debruçamos sobre produções textuais de alunos do Ensino Fundamental I, em que estes tiveram como ponto de partida para suas redações o poema Infância, de Carlos Drummond de Andrade. Observar a inscrição subjetiva do sujeito, isto é, a identificação do mesmo com a temática e com os sentidos por ele produzidos, bem como a possibilidade de assunção da autoria que o assunto, a proposta de redação e o contexto de ensino proporcionaram aos sujeitos da pesquisa, foram nossos objetivos ao longo das análises, as quais se ancoraram nos referencias teóricos da Análise do Discurso. Nossa pesquisa demonstrou que a prática pedagógica pautada no discurso polêmico resultou em redações perpassadas por sentidos outros, por uma polissemia, já que os sujeitos puderam ir além dos sentidos enunciados pelo poema, evocando suas próprias impressões sobre o texto e utilizando-se da relação entre os sentidos de família do texto e os sentidos de sua própria família (e sobre seus desejos de família). Tal escape vem confirmar a nossa hipótese acerca da necessidade de os sujeitos usarem a escrita para falarem de si, além de reforçar a nossa proposição de que um trabalho pautado no discurso polêmico abre sempre o espaço necessário para a assunção da autoria e para a emergência da subjetividade. São riquíssimos ainda os sentidos evocados pelos sujeitos acerca do poema, os quais remetem a uma família rural ou do campo, simples e antiga, de forma distinta da família dos próprios sujeitos-escolares, esta denominada atual e urbana, em que os pais trabalham, têm carro e se utilizam muito da tecnologia. É, pois, de modo contrário ao discurso dominante da sociedade em que vivemos, marcado por uma crescente necessidade do novo, da modernidade e da tecnologia, o qual ainda atribui às coisas antigas e simples, relacionadas ao meio rural, um aspecto de caretice que os sujeitos-alunos desta pesquisa se posicionam: é, surpreendentemente, um efeito de sentido de desejo por uma vida mais tranquila, calma e quieta, representada pela vida no campo, em que viver fora de tecnologia é sinônimo de paz, de não ter problemas como os roubos, a fofoca e a falta de tempo, típicos da cidade, que o discurso desses sujeitos-crianças belamente e coerentemente se constroem. |