Resumo |
Muitos estudos em aquisição fonológica tem se dedicado a delinear a ordem na qual o sistema fonêmico é adquirido e a determinar as estratégias das quais as crianças lançam mão para simplificar a produção de ponto e modo de articulação ainda não dominados durante o desenvolvimento fonológico. Dentre as estratégias mais amplamente discutidas na literatura, tem-se os processos de redução, apagamento e substituição segmental, além de reduplicações silábicas e processos de harmonia tanto consonantal quanto vocálica. (Fikkert & Levelt, 2008; Gormley, 2003). Entretanto, tais processos fonológicos não constituem as únicas estratégias das quais a criança faz uso. Tem-se também verificado que elas selecionam do léxico segmentos e estruturas silábicas que são capazes de produzir e evitam palavras cuja estrutura fonológica não tenha sido ainda dominada em seu sistema. (Fergurson & Farwell, 75; Schwartz and Leonard, 82; Stoel-Gammon and Cooper, 84; Storkel, 06).
O presente estudo analisa a estratégia de seleção no desenvolvimento fonológico de três crianças adquirindo o Português Brasileiro, PB, durante o período de 1;4 a 2;4 (ano;mês). A análise foi delimitada à aquisição dos pontos de articulação labial, coronal e dorsal em posição de ataque silábico. Ao todo, foram coletados 1.566 tokens de produções dissilábicas as quais foram classificadas em três diferentes categorias: i) produções não-homorgânicas fiéis ao alvo, e.g [ga.tu]; ii) produções homorgânicas fiéis ao alvo, e.g [dodɔy]; e iii) produções que se tornaram homorgânicas através do processo de harmonia consonantal, [ga.ku] para /ga.tu/. Baseando-se em estudos que indicam que a criança faz uso da harmonia consonantal a fim de produzir palavras que sejam congruentes com o seu sistema fonológico (Fikkert & Levelt, 2008), espera-se, nessa pesquisa, que elas também selecionarão do léxico palavras homorgânicas e que essa seleção será estabelecida de acordo com a ordem de aquisição de ponto registrada na literatura do PB: coronal, labial e dorsal (Lamprecht, 2003)
De fato, os resultados indicam que durante um primeiro período, de 1;4 a 1;10, a seleção de alvos homorgânicos atingem 49% das produções, diminuindo para 32% no período de 1;11 a 2;4. Além disso, verificou-se que, durante o primeiro período, seleções homorgânicas com coronais correspondem à 57%, seguidas pelas labiais (30%) e pelas dorsais (13%), reflentindo a ordem de aquisição de ponto na língua.
Esses resultados sugerem, portanto, que a seleção de alvos homorgânicos é uma estratégia ativas durante a aquisição de ponto no PB, priorizando-se alvos coronais e labiais.
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