Resumo |
Nascido no ano de 1861 em Trieste, nordeste da Itália, Italo Svevo é considerado, hoje, um dos maiores romancistas do século XX, precursor de uma narrativa tida como de vanguarda, cujo tempo objetivo, cronológico, é substituído pelo tempo do eu, da consciência inquieta de seus personagens.
Apresentando uma narrativa riquíssima, aberta a visões e interpretações diversas, julgamos fundamental destacar que propomos uma leitura de seus três romances: Una vita (1892), Senilità (1898) e La coscienza di Zeno (1923), que privilegie os próprios textos e que permita desvelar as relações amorosas, desnudando o modo como o ciúme aprece na constituição dessas narrativas.
Nesses três romances todas as experiências amorosas dos protagonistas vêm sempre acompanhadas por um ciúme doentio. Assim, Alfonso Nitti, narrador de Una Vita, primeiro romance de Svevo, em meio a suas indecisões, ainda que não aceite, sente ciúmes de Anneta. E talvez por medo desse ciúme fuja da concretização de uma paixão.
Emilio Brentani, protagonista do segundo romance de Svevo, Senilità, ao contrário, inicia um relacionamento sexual, sem qualquer vínculo afetivo, como ele mesmo deixa claro na narrativa, com a bela Angiolina. Contudo, com o desenrolar da história percebemos que ele se envolve demais com essa moça, apaixonando-se por ela e demonstrando um ciúme doentio pela mesma.
No terceiro e mais conhecido romance de Svevo, La coscienza di Zeno, o ciúme é pintado com cores mais leves. Talvez isso se deva em parte, e pretendemos analisar tal pressuposto, ao amadurecimento do narrador. Dos três protagonistas, Zeno Cosini é o que, aparentemente, lida melhor com a questão do ciúme.
Dado essencial na narrativa dos três romances, o ciúme é consolidado com a constituição do triângulo amoroso que será desenvolvido e discutido como elemento fundamental dos relacionamentos afetivos que se concretizam apenas na presença de um terceiro elemento, um mediador entre o sujeito que deseja e o seu objeto desejado.
Ainda que por modos diferentes, as diversas teorias que discorrem sobre o ciúme convergem em um ponto, ou seja, no caráter triplo desse sentimento, cuja figura geométrica que melhor o representa é o triângulo. Todavia, o ciúme no presente trabalho será analisado à luz da teoria do filósofo francês, René Girard, sobretudo, a partir de sua obra Mentira Romântica e Verdade Romanesca.
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