Resumo |
O presente trabalho se propõe a explicitar, a partir de um mecanismo formal, que tipo de fenômeno é responsável pelas interpretações possíveis para o item lexical mesmo, no português brasileiro (PB).
É fácil notar que no conjunto de sentenças a seguir o mesmo parece sofrer algumas mudanças de significado:
(1)
a) Mesmo o João tem medo de avião;
b) O João mesmo tem medo de avião;
c) O João tem medo mesmo de avião;
d) O João tem medo de avião mesmo.
Os dados mostram que podemos estar diante de um tipo de ambiguidade lexical, de maneira que teríamos a mesma sequência sonora com significados diferentes. Alguns trabalhos, que nos servirão como ponto de partida, já se debruçaram sobre o item em questão no PB (Vogt, 1977; Ilari, 1996; Guimarães, 2010), porém, todos eles parecem fazer um recorte que deixa de lado o aspecto polissêmico do "mesmo", já que as propostas de análise não são tão eficientes quando aplicadas à outras ocorrências do mesmo, em outras posições. Ainda que o esforço de uma análise deva ser no sentido de não postular mais significados do que os necessários para uma expressão linguística, estas análises já oferecidas nos fazem acreditar na ideia de que é preciso denotações diferentes para dar conta do mesmo.
Para iniciar o estabelecimento de uma distinção semântica entre os tipos de mesmo ilustrados em (1a-d), iremos levantar a hipótese de que o "mesmo", no PB, pode ser semanticamente semelhante ao "even" e ao "indeed", no inglês. A pertinência dessa aproximação será testada a partir dos trabalhos de Horn (1972) e Karttunen e Peters (1979) que oferecem análises para o even e Zeevat (2000) que discute o indeed.
Essas pesquisas irão argumentar que a denotação desses itens está diretamente ligada ao conteúdo pressuposicional mantido por eles. Iremos, portanto, checar a aplicabilidade dessas análises no PB para propor uma discussão mais unificada do mesmo. |