Resumo |
Este trabalho tem por objetivo descrever estruturas com proformas verbais, focalizando o comportamento dos verbos fazer e acontecer. Mediante a observação de estruturas como Uma jovem, de 27 anos, foi presa no fim de semana suspeita de espancar a filha de apenas três anos em Goiânia, Goiás. A menina teve o intestino perfurado e precisou passar por uma cirurgia. Ela está internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Materno Infantil, na capital. Além da lesão intestinal, a garota tem hematomas em todo o corpo, como mordidas no rosto. A mulher confessou o crime e disse que 'FEZ ISSO' porque tem surtos, por isso ataca quem está perto. A delegada que investiga o caso informou que as agressões acontecem há muito tempo e que o Conselho Tutelar recebeu diversas denúncias. (notícias.r7 / Mulher é presa suspeita de espancar filha de três anos em Goiânia) e Moro no Beco do Guarda, em Sepetiba, e gostaria de saber da Rioluz por que não existe iluminação pública nessa comunidade. Como 'ISSO PODE ACONTECER' se pagamos os nossos impostos em dia, inclusive uma taxa para iluminação pública? Já fizemos até um abaixo-assinado, mas não obtivemos resposta alguma da empresa. (Cartas, Extra, 13/01/04, Sepetiba sem iluminação), pretende-se (i) investigar os processos que levam os verbos fazer e acontecer a comportar-se como itens mais instrumentais com função fórica; (ii) analisar, em termos de construção gramatical, os padrões sequenciais fazer isso e acontecer isso; e (iii) interpretar as funções textuais adquiridas por tais elementos verbais, em vista das noções de referenciação e encapsulamento anafórico. A pesquisa pauta-se na ideia de mudança linguística licenciada pelos usos e na concepção de gramaticalização, na qual elementos são recrutados para uma construção gramatical. Nesse sentido, entende-se que nomes, verbos, adjetivos, entre outros itens, gramaticalizam-se a favor de uma participação em uma determinada construção gramatical. Em termos mais específicos, o estudo baseia-se no conceito de gramaticalização, aos moldes de Traugott (2003), cuja abordagem enfatiza a interface entre tal processo de mudança linguística e a noção de construção gramatical, difundida e detalhada por Goldberg (1995 / 2003). O trabalho conta também com apontamentos teóricos advindos da linguística textual, no que concerne ao que Koch (2006) concebe por referenciação e ao que Conte (2003) nos apresenta acerca das anáforas encapsuladoras, que, embora sejam marcações linguísticas de estratégias de retomadas de sintagmas nominais, podem contribuir para a descrição do fenômeno desta pesquisa. |