Resumo |
A psicolinguística assume a linguagem como um módulo autônomo e encapsulado (Fodor, 1983). Tanenhaus et al. (1995) demonstraram, a partir de experimento em que o movimento do olhar e gestos de adultos foram monitorados enquanto os mesmos ouviam sentenças temporariamente ambíguas, que os participantes de fato utilizavam estratégias de processamento baseados em princípios sintáticos, como Aposição Mínima. Entretanto, quando apresentados a contextos referenciais relevantes, esses participantes utilizaram informações não linguísticas para gerar alternativas sintáticas, revelando sensibilidade ao Princípio Referencial (Altmann & Steedman, 1988), segundo o qual o parser prefere representações sintáticas que se refiram com sucesso a entidades distintas do discurso. Trueswell et al. (1999) realizaram o mesmo teste com adultos e crianças de 5 anos. Seus resultados com adultos replicaram aqueles do teste anterior, porém as crianças mostraram-se incapazes de fazer uso da informação referencial em suas estratégias de parsing. Concluiu-se que as crianças não são sensíveis ao princípio referencial e baseiam suas decisões de processamento em princípios sintáticos ou no viés lexical do verbo envolvido na ambiguidade. Snedeker & Trueswell (2004), por sua vez, testaram a influência tanto do contexto referencial quanto das propriedades lexicais dos verbos e descobriram que adultos combinam os dois tipos de informação para determinar sua escolha sintática, enquanto as crianças se baseiam exclusivamente no viés do verbo para chegar à interpretação final. Os olhares das crianças, no entanto, revelaram uma incipiente sensibilidade a restrições de ordem referencial. Neste trabalho, realizamos uma revisão dos principais estudos de processamento da linguagem em crianças, bem como apresentamos uma proposta de experimento com adultos e crianças a ser realizado por meio técnica em que o movimento do olhar é monitorado enquanto participantes manipulam objetos em resposta a instruções verbais envolvendo ambiguidades temporais e totais, contextos referenciais e propriedades lexicais. Esperam-se resultados em que adultos obtenham sucesso em utilizar a informação referencial, enquanto que crianças utilizem principalmente propriedades lexicais dos verbos, ainda que suas fixações de olhar sugiram sensibilidade ao contexto referencial. Nossa hipótese é que o indivíduo experimente mudanças quanto ao uso de informações para o processamento linguístico ao longo de seu desenvolvimento, visão esta legitimada por uma perspectiva lexicalista (MacDonald et al., 1994, e.o.) em que múltiplas informações competem para geração de uma interpretação. Essa teoria prevê que, durante o desenvolvimento do parser, informações estruturais, como o viés de verbos, emergem mais cedo e de maneira mais robusta do que outros tipos de informação. |