Resumo |
As tecnologias digitais de informação e comunicação estão alterando de maneira drástica os modos pelos quais interagimos, uma vez que expandem o alcance social humano. Estamos nos valendo mais de sites de redes sociais como o modo principal de nos comunicarmos com amigos, mas, também, com usuários de serviços e potenciais clientes, caracterizando-os como lócus de um jogo discursivo para cujo funcionamento a interação é vital e, assim, espaços em que nossa identidade e a de nossos interlocutores são construídas pelo e no discurso. Considerando que a disseminação das redes sociais como modo de comunicação e manutenção de relacionamentos pessoais e profissionais vem se alastrando e, recentemente, chegou às salas de aulas, analisamos representações de ensinar e aprender em postagens de professores, alunos e ex-alunos de um curso de Letras no Facebook nos últimos 2 anos para identificar as práticas identitárias por elas implicadas. Nosso trabalho se insere no quadro teórico-metodológico da Análise de Discurso de linha francesa (Pêcheux, Foucault, Deleuze, Derrida) e visa a melhor entender se e em que medida a transmutação de redes sociais em espaços de interação para/ de ensino/ aprendizagem de línguas está a contribuir para a constituição de um novo regime de governamentalidade nas relações educacionais. Trata-se, por conseguinte, de pesquisa de cunho qualitativo-interpretativista e transdisciplinar, em que se analisa a materialidade lingüística do discurso selecionado à luz de suas condições de produção, adotando-se o conceito discurso proposto por Foucault, para quem o discurso é produtivo: não se limita a nomear coisas, mas também cria coisas, novos sentidos que têm efeito de verdade e relacionando-o ao conceito de representação (Hall, Woodward), pois ambos devem ser analisados enquanto táticas e estratégias de poder, já que é o poder que torna as coisas verdadeiras. Os resultados obtidos até o momento revelam que as postagens privilegiam enunciados motivacionais e enunciados pedagógicos, em sua maioria com recurso a citações, máximas, provérbios, paródias e quadros sinóticos, que ancoram a novidade do ensinar e aprender em renovados valores tradicionais, carismáticos e científicos, configurando-se um quadro em que não se pode pensar aluno e professores senão como consumidores de conteúdos didáticos e do próprio processo ensino/ aprendizagem, simulacros de si próprios em moldes de avatares, sempre em busca de (a)parecer na excelência de um desempenho sempre em falta, ator e platéia de um mesmo espetáculo de uma promessa em constante e inescapável devir. |