Resumo |
Estudos voltados à mudança de orações completivas declarativas (CEZARIO, 2001, 2004; CARVALHO, 2004; SOUSA, 2007) e interrogativas (SOUSA, 2007, 2012) revelam a existência de três diferentes modos pelos quais construções completivas do português se simplificam, passando o complexo subordinativo, originalmente bioracional (composto de oração matriz e oração completiva), a se constituir de uma única oração simples, em construção mono-oracional. Esse três modos são: (i) a dessentencialização da oração completiva, que formalmente passa de finita à não-finita (LEHMANN, 1988; GIVÓN, 1990; CEZARIO, 2001; CARVALHO, 2004); (ii) a gramaticalização do predicado matriz, que em geral se desenvolve a marcadores de modalidade e evidencialidade (THOMPSON; MULAC, 1991; GONÇALVES, 2003; CASSEB-GALVÃO, 2001); e (iii) reanálise do complementizador como parte do predicado matriz (SOUSA, 2007, 2012), formando com ele um único bloco significativo, isto é, uma construção, no sentido em que a define Goldberg (1995). O objetivo deste trabalho é investigar, sob perspectiva teórica funcionalista, esses diferentes modos de simplificação por que passam orações completivas do português, com vista a averiguar, especificamente, a possível existência de propriedades semântico-funcionais que sejam determinantes da ocorrência de cada uma dessas formas de redução do complexo oracional completivo. A investigação é pautada pela análise de ocorrências de completivas extraídas de dois diferentes corpora do português: o "Corpus de Língua Escrita do Brasil" e o "Banco de dados Iboruna". As análises já empreendidas demonstram haver influência do tipo de unidade semântico-funcional representado na oração completiva sobre os modos de simplificação a que o complexo oracional se submete. A classificação de orações completivas como unidades semântico-funcionais distintas segue, nesta pesquisa, proposta da teoria da Gramática Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008), segundo a qual orações completivas podem equivaler às diferentes unidades de representação linguística distinguidas, nesse modelo teórico, conforme o grau de complexidade e o nível de análise (representacional e interpessoal) a que pertencem. A influência do tipo de unidade representado na completiva sobre o modo de simplificação ocorrente, conforme indicam os resultados obtidos, dá-se por meio de estreita correlação com a distribuição hierárquica das unidades pelos diferentes níveis de análise. Especificamente, essa correlação se mostra no sentido de que completivas representativas de unidades de níveis mais baixos tendem a se reduzir via dessentencialização da oração, ao passo que construções em que a completiva equivale a unidades de níveis mais altos exibem maior tendência à simplificação por meio da gramaticalização do predicado matriz, envolvendo ou não a reanálise do complementizador. |