Resumo |
O presente artigo tem como objeto de estudo as competências avaliadas na redação do Exame Nacional do Ensino Médio, objetivando investigar os saberes linguísticos que as permeiam. Para isso, à luz da Análise do Discurso desenvolvida por Michel Pêcheux na França e Eni Orlandi no Brasil, foi realizada a análise documental do guia A redação no ENEM 2012: guia do participante, disponibilizado pelo Ministério da Educação e Cultura aos participantes da prova, no site oficial do MEC, a partir de abril de 2012.
O objeto de análise é o discurso do documento oficial, no que tange à avaliação da redação do ENEM, observado à luz da análise de discurso de orientação francesa, mais precisamente nas ideias de Michel Pêcheux e Eni Orlandi. Nesse contexto, pretende-se analisar as condições de produção sócio-históricas e ideológicas que estão na base do já-dito, da memória do dizer (interdiscurso) e dos sentidos que se manifestam nas sequências discursivas em questão.
Se, segundo as palavras de Orlandi (2005), o sentido não existe em si, sendo determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no contexto sócio-histórico em que os discursos são produzidos, é importante que cada documento seja avaliado como materialidade linguística representativa da ideologia de uma época, resultado de várias formações discursivas que se entrecruzam e ressignificam.
Nesse texto, refletimos sobre as ressonâncias discursivas das teorias linguísticas presentes nas competências e voltamos o olhar para a elaboração do documento oficial e os efeitos de sentido por ele produzidos. As sequências discursivas analisadas mostram que predominam traços da linguística textual na constituição das competências, embora ainda ecoem conceitos da gramática tradicional. Percebe-se que o documento apresenta algumas contradições quanto ao conceito de autoria e que está marcado por uma tentativa de no papel de discurso oficial controlar os sentidos produzidos pelos participantes.
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