Resumo |
Discursos cristalizados, representações imaginárias e relações de poder constituem os contextos prisionais, de onde advêm reflexões que os abordam concomitante e (in) conscientemente. Estando tal contexto envolto em relações (des) iguais de poder e autoridade, tais discursos categorizam de modo por vezes generalizante, sujeitos e lugares. Tal investigação se justifica por constituírem estes aspectos o discurso num contexto de consideráveis relações, perpassado por regimentos e, sobretudo, autoridade, disciplina e poder. Objetivamos apontar tais relações que possibilitam (ou não) situações de exclusão, interpretando possíveis representações de cadeia que possuem as detentas do Presídio Feminino de Três Lagoas MS, onde por meio de seu discurso, estendem reflexões atreladas a efeitos de sentido perpassados inclusive, pela ideologia. Para isso, partimos da hipótese de que há em meio a este contexto, discursos revestidos de (camuflada) resistência, onde por meio de estratégias revelam-se contrários às representações já constituídas em sociedade. Assim, pautamo-nos por questões como: quais as estratégias de resistência que suscitam em meio às tentativas de controle? Quais os efeitos de sentido possíveis ao representarem a cadeia? Há disciplina regida pelo poder? O procedimento metodológico consta da seleção e análise discursiva de excertos de seis cartas escritas por detentas do Presídio Feminino de Três Lagoas-MS, destinadas a familiares, amigos ou o companheiro (marido) que por vezes possa estar no Presídio Masculino. O arcabouço teórico deste trabalho fundamenta-se nos pressupostos da Análise do Discurso de linha francesa, com as contribuições de Pêcheux (1991), tratando de identidade em Coracini (2007) e ancorando-se também dos pressupostos do filósofo Foucault (1984) no que diz respeito às relações estabelecidas por meio do discurso perpassado pelo poder e pela disciplina, bem como a reflexões acerca dos contextos prisionais. A análise inicial indica que em meio às representações de cadeia emergem o discurso da indignação e do arrependimento, representando tal contexto pelos dizeres: maldito lugar; cadeia é cadeia, só muda de endereço; também dizem sentirem-se bem, na medida do possível, significando estarem num entre lugar, onde as instâncias de controle buscam reformar e corrigir, tornando-as corpos dóceis. |