Resumo |
É com base nos pressupostos fundamentais da Linguística Histórica e da Sociolinguística que este trabalho se propõe a analisar a variação de preposições em textos de cartas de leitoras de revistas femininas atuais brasileiras e portuguesas, importando o fato de que o gênero textual cartas de leitoras mostra-se bastante permeável à oralidade, assim como apontado por Marine (2009). Foram selecionadas quatro preposições A, ATÉ, EM e PARA identificadas como variantes em contexto de complementação verbal no português. Estudos anteriores mostram uma diminuição acentuada no uso da preposição A, no PB, no decorrer dos séculos XIX e XX (Guedes e Berlinck; 2003, Torres Morais e Berlinck, 2006): enquanto no século XIX foi comprovada a predominância da preposição A, no século XX houve uma redução dessa preposição e um aumento considerável das preposições PARA e EM, o que evidencia situações de variação e um caminho de mudança, justificando o objetivo geral deste trabalho. Tomou-se, assim, como ponto de partida para tal pesquisa as seguintes questões: (i) observa-se a variação dessas preposições no PE?; (ii) se há variação, ela obedece às mesmas restrições no PE que aquelas observadas para o PB? Para alcançar este objetivo geral, privilegiou-se a análise mais apurada de dois fatores de natureza linguística que estudos anteriores revelaram ser capazes de explicar a distribuição e as possíveis diferenças existentes no uso dessas preposições: a natureza semântica do predicador (se de direção ou de transferência e, nesse último caso, o tipo de transferência significada material, material com movimento ou verbal) (Berlinck 1996); e a natureza semântica do complemento (se denota um lugar, um ser animado (e, em especial, humano), ou uma outra entidade que não se enquadre nessas características). Espera-se encontrar um uso maior das preposições ATÉ, EM e PARA nos dados analisados no PB, enquanto, para os dados do PE, a hipótese inicial é de que a preposição A prevaleça, ainda que a análise preliminar desses dados esteja sujeita à comprovação da análise quantitativa. Pretende-se, através dessa análise, apontar explicações e justificativas para as diferenças existentes entre os usos dessas preposições nas cartas brasileiras e portuguesas, de modo a determinar em que medida essa distribuição revela padrões diferentes de uso em relação às normas vigentes. Essa análise seguirá os pressupostos teórico-metodológicos da Teoria da Variação e Mudança (Labov 1972, 1982, 1994, 2001) e as informações obtidas serão tratadas estatisticamente, por meio da utilização do pacote estatístico GOLDVARB. |