Resumo |
As revistas e jornais on-line, seguindo os passos de outras plataformas (como blogs, sites de compartilhamento de vídeos e imagens, redes sociais etc.), disponibilizam um espaço para a manifestação de opiniões de seus leitores, os chamados comentários. É muito comum que esses comentários sejam organizados segundo formas de avaliação que valorizam ou depreciam o texto lido, o que permite, segundo nossa hipótese, que os discursos veiculados nos comentários polarizem-se em discursos de elogio e discursos de depreciação. Essa polarização nos permite pensar inicialmente na distinção dos gêneros oratórios como definidos na Retórica de Aristóteles, especialmente no discurso epidíctico, usado para louvar ou censurar um homem ou uma categoria de homens. Há, no entanto, em determinados casos, mais que censura, mas uma acentuação do discurso de depreciação que acaba por estabelecer-se como um discurso de ódio. Esse é o caso, frequentemente, de comentários sobre textos que tratam de religiosidade e crença, sexualidade, gênero e raça. Para este trabalho, tomamos como córpus de análise os comentários on-line relacionados a uma matéria veiculada na Revista Veja On-line, intitulada Malafaia ataca união homossexual e causa reação nas redes sociais, que noticia a repercussão da entrevista do pastor evangélico Silas Malafaia à jornalista Marília Gabriela em seu programa de televisão na rede SBT, e os comentários ao vídeo-resposta a Silas Malafaia, do biólogo Eli Vieira, veiculado no YouTube, que trata de questões sobre genética e orientação sexual. Temos por objetivo (1) analisar, por meio do arcabouço teórico da semiótica discursiva, o modo como o tipo textual comentário on-line acolhe e organiza a existência dos discursos de elogio e de ódio e como tais discursos se organizam axiologicamente, ora euforizando ora disforizando determinadas formas de vida, como a homossexual, a heterossexual, a cristã e a científica e (2) delimitar em que medida as dimensões textual, morfológica e prática do comentário on-line inter-relacionam-se. |