Resumo |
A comunicação ora proposta põe em discussão a complexidade, que julgamos presente, entre propostas de produção textual como exercício escolar, textos produzidos pelos alunos em resposta às propostas e possíveis avaliações desse processo de produção textual pelos professores ou corretores. Propomo-nos observar essa questão a partir do conceito de criatividade, submetido, então, a duas perspectivas que, embora não se possam dizer contrárias, colocam-se em confronto à medida que olham para pontos diferentes de uma mesma cadeia no processo de produção textual. Uma primeira, na qual consideramos como parâmetro os princípios, em geral, adotados pela escola, pelos quais a criatividade confunde-se com o ponto de chegada ideal; e uma segunda, que tem como referência os pressupostos da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE), de autoria de Antoine Culioli, por meio dos quais a criatividade tem a ver com os processos geradores da atividade de linguagem. A opção por esta última justifica-se pelo fato de se fundamentar em questões linguístico-cognitivas, nas quais pautamos nossas reflexões sobre o ensino de língua. À medida que, nesses dois quadros, o conceito de criatividade delineia-se diferentemente, é possível observar que, em um e outro caso, estamos diante de referenciais destoantes para se pensar o processo de produção textual aqui em foco. Poderíamos dizer que não seria problema, tendo em vista que se trata de perspectivas diferentes. Porém, é possível verificar que, em tese, os dois quadros apontados sustentam que a aplicação da produção textual no ensino só tem razão de ser se se considerar que por esse caminho o aluno desenvolve a sua capacidade dialógica, ou seja, desenvolve-se como sujeito. Aproximam-se, assim, uma vez que afirmam sobre a relevância de se trabalhar com a atividade epilinguística no exercício com a linguagem, entendida como atividade criativa. Ainda que esse objetivo se explicite em várias propostas curriculares, vemos que ele se perde em relação à prática aplicada, tradicionalmente, pelo ensino, que acaba por validar os lugares idealizados a serem alcançados pelos alunos. A escola, ao mesmo tempo que nega o lugar de reprodução de modelos, apoia-se nesse lugar no momento da avaliação, desprezando a atividade epilinguística. Ao apontar essa posição dúbia em que a escola se encontra, pretendemos ressaltar a relevância de se adotar no ensino de produção textual os fundamentos da TOPE, o que significa reafirmar o trabalho com a atividade epilinguística e, sobretudo, rever o papel da avaliação nesse processo. |