Resumo |
O Modernismo teve um papel importante na Literatura, na medida em que procurou romper a visão eurocêntrica, através da incorporação nos textos de etnias como a do negro e a do índio retratadas, até o século XIX, exclusivamente do ponto de vista do branco. Os modernistas antropófagos entenderam que a presença das diversas etnias na formação do povo brasileiro era algo positivo e passaram, então, a deglutir a diversidade, fazendo dela tema de suas obras. É assim que Raul Bopp num movimento inicialmente xenófobo passa a buscar as nossas raízes e vai, depois num movimento dinâmico e antropofágico, ao encontro da cultura indígena e africana com o intuito de digeri-las, daí suas obras mais conhecidas Cobra Norato e Urucungo tematizarem, respectivamente, o índio e o negro. Raul Bopp em Urucungo apresenta a trajetória da escravidão da África ao Brasil, referindo-se a festas religiosas, danças, lendas e músicas africanas. O escritor utiliza elementos do universo africano para compor seus poemas, caracterizando o livro como urucungo só de gemido de negro. A obra tem início com Pai-João e as suas lembranças do Congo e termina com a descrição do negro livre vivendo nas favelas. Partindo da concepção dialógica de linguagem, da concepção de que os discursos são ocupados pelo discurso de outro, procuramos neste trabalho mostrar que a alteridade presente em Urucungo é evidenciada, também, por meio de marcas linguísticas. Marcas que, de acordo com Authier-Revuz, revelam explicitamente a presença do outro, como o discurso direto, o discurso indireto, as aspas. Na obra a ser analisada, a voz marcada do negro se apresenta em itálico numa aproximação sonora que remete às línguas africanas. Essas transcrições em itálico aparecem como refrões e orientam o leitor para o ritmo, para o batuque característico dos rituais afros. Observamos também que os títulos de cada um dos poemas são marcas da presença do negro aludindo a músicas, danças, lendas, lugares e personagens da cultura africana.
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