Resumo |
Nesta apresentação, temos como objetivo discutir questões de natureza epistemológica e heurística, refletindo sobre possíveis emparelhamentos ou aproximações entre premissas que constituem os arcabouços da sociolinguística variacionista e do funcionalismo linguístico norte-americano, além de apontar, com base em demandas atuais, rumos futuros que podem vir a ser seguidos pelo sociofuncionalismo. Há vários fatores que permitem que pressupostos dessas duas abordagens sejam relacionados em busca de possíveis convergências. Daremos destaque a alguns desses fatores, como: (i) o material gramatical é variável e probabilístico por natureza (LABOV, 1972; BYBEE, 2010, 2012); (ii) a mudança é um processo contínuo e gradual, captada sincrônica e diacronicamente de forma complementar (LABOV, 1972), envolvendo duas etapas a emergência da inovação e a difusão da inovação ao longo da sociedade (HOPPER; TRAUGOTT, 1993); (iii) há relação entre os fenômenos linguísticos e a sociedade que usa a língua: a mudança se espalha de forma gradual ao longo do espectro social, considerando-se fatores como região, geração, classe social etc. (LABOV, 1972; LICHTENBERK, 1991); (iv) a frequência é relevante para a regularização de usos (BYBEE, 2010) e a difusão sociolinguística nos termos labovianos; (v) o percurso de mudança semântico-pragmática e categorial dos itens pode ser descrito como um processo de gramaticalização (TRAUGOTT, 2001); (vi) os princípios de estratificação e de persistência (HOPPER, 1991) respaldam a abordagem sociofuncionalista a partir do conceito de domínios funcionais, correlato da noção laboviana de variáveis linguísticas; (vii) a variação pode ser solucionada pela substituição de uma forma por outra (LABOV, 1972) ou por especialização de usos, seja por generalização ou por especificação (HOPPER, 1991, TAVARES, 2003); (viii) metodologicamente, procede-se ao detalhamento de cada grupo de fatores buscando captar variações e mudanças em curso ainda sutis (perspectiva funcionalista), e posterior amalgamação de fatores para facilitar a proposição de generalizações (perspectiva variacionista), considerando a possibilidade de motivações em competição (GIVÓN, 2002; LABOV, 2010); (ix) os resultados quantitativos e qualitativos obtidos são explicados através de princípios e motivações de natureza cognitivo-comunicativa cuja fonte principal para as reflexões é o funcionalismo , além de princípios e motivações de natureza sociocultural e estilística cuja fonte principal para as reflexões é a sociolinguística variacionista (GIVÓN, 1995; LABOV, 2003). |