Resumo |
O feminismo pós-moderno/pós-estruturalista tem por base de análise a linguagem, entendendo que, se a linguagem define realidade e a ordem da linguagem é patriarcal, então, realidade e verdade são conceitos patriarcais; os discursos produzem conhecimentos que variam de cultura para cultura, e, de acordo com os diferentes momentos históricos. O que é considerado verdade em uma determinada formação discursiva, em determinado lócus, pode ser alterado quando transplantado para outra cena enunciativa. As instituições não deixam de reproduzir os estereótipos femininos das mais diversas formas e, em sociedades consideradas mais avançadas como a sociedade norte-americana, por exemplo - as discussões sobre a violência simbólica e o sexismo na linguagem - para citar apenas dois temas dos estudos sobre as mulheres - já completaram cinquenta anos de idade. O poder, de acordo com Foucault, é exercido de baixo para cima, de inúmeros pontos, e, assim também podemos entender as resistências. Posicionar-se fora de um discurso significa se deslocar dentro dele, recusando certas verdades já-existentes. No entanto, desnudar o discurso é condição necessária, porém não suficiente; a subjetividade ou os processos subjetivos, que estão definidos em relação a um sujeito homem, que é a norma, tem que ser desvelado, uma vez que, na perspectiva pós-modernista/pós-estruturalista, os conceitos universais e as categorias fixas são rejeitados, pelo entendimento de que os significados estão constantemente sendo (re)negociados na arena discursiva. Como lidar com tais questões se o pós-estruturalismo atesta a (im)possibilidade da representação do feminino no Simbólico, pois todo e qualquer discurso é masculino? O objetivo desta comunicação é analisar o caso da Escrivã Despida, lugar que encontramos a mulher posicionada como o sujeito-vítima, o que produz certos efeitos, legitimando o status quo. A crítica pós-estruturalista da opressão do pensamento representacional - realizada principalmente através de Foucault (ao criticar o poder no discurso, e como discurso) e de Irigaray (ao apontar o masculinismo do pensamento representacional) nos interessa para entender como sistemas de representação - masculinos - podem prover um lugar para o feminino, a fim de que novos mundos sejam (re)criados. Dessa perspectiva, entendemos a posição da mulher na linguagem e na mídia como incoerente, pois ela se encontra somente em vácuo, em um vazio de significado, um lugar que não é representado, e nem simbolizado, ela não é sujeito e nem produtora de cultura.
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