Resumo |
Como é sabido, no português brasileiro (PB), apesar de alguns sintagmas serem predicados tanto do verbo ser quanto do verbo estar (como em O João é/ está gordo), alguns predicados podem somente ser combinados com o verbo ser ao passo que outros só podem ser combinados com estar, como podemos observar abaixo:
(1) a. O Rafael está/ *é descalço.
b. A Maria está/ *é grávida.
(2) a. A Maria é/ *está fiel.
b. O João é/ *está cozinheiro.
Além disso, tomando como exemplo os sintagmas preposicionais (PP) predicados das orações copulares do PB, observamos que a seleção de cópula + PP pode culminar em papéis temáticos (ideias semânticas) distintos, a depender da semântica expressa no PP pós-cópula. É relevante salientar, ainda, que, a seleção das cópulas ser/ estar, nesses casos, é fixa, não podendo haver permuta dessas cópulas:
(3) a. A Denise está / *é [PP na praia]. Locativo
b. A Denilda está / *é [PP com os orientandos]. Companhia
c. O Marcos está / *é [PP com dinheiro]. Posse
(4) a. Essa chave é / *está [PP de ouro]. Matéria
b. O dinheiro é / *está [PP pra o Manoel]. Beneficiário
c. Este tapete é / *está [PP da China]. Origem
Apesar de, como visto acima, a seleção da cópula neste fenômeno ser fixa no PB, sabemos que, no português arcaico, algumas ideias semânticas, como a de companhia, por exemplo, eram determinadas a partir da junção do PP à cópula seer, como pode ser visto no exemplo (5), retirado de Mattos e Silva (2006, p. 151):
(5) ... e que en outro dia seeriam com ele.
Dada a discussão acima, objetiva-se com este trabalho acompanhar o percurso dos verbos copulares do português brasileiro de Pernambuco. Mais especificamente, pretende-se analisar os contextos sintáticos em que os verbos ser e estar aparecem em cartas oficiais e particulares dos séculos XVIII e XIX, retirados do Projeto Para História do Português Brasileiro (PHPB) da equipe regional de Pernambuco, levando em consideração também as ideias semânticas estabelecidas a partir da junção da cópula com o sintagma predicado (sintagma nominal, preposicional, adjetival e adverbial), como nos exemplos acima. A ideia é investigar se haveria já naquela época as restrições de seleção que existe hoje no português brasileiro (doravante PB), levando em consideração o arcabouço teórico-metodológico da Teoria da Variação e Mudança Linguística (cf. WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968). |