Resumo |
Os códices eclesiásticos constituem-se rico material ao estudioso da linguagem por se mostrarem, geralmente, mais bem conservados, pela escrita característica dos religiosos, obrigatoriamente letrados, e por descortinarem um universo sociocultural de que pouco se conhece. A Igreja Católica, no período colonial e imperial no Brasil, registrou dados históricos e os conservou mais que outras instituições sociais. Nesta perspectiva, o estudo proposto toma como corpus o Livro de Registros de Batizados da Paróquia Nossa Senhora Mãe de Deus (maio de 1837 a setembro de 1838), da Vila do Catalão, Comarca de Santa Cruz, Província de Goiás para nele investigar aspectos da escrita, notadamente as abreviaturas do Vigário Francisco Matozo que faz os registros, e da seleção lexical que o caracteriza como livro para registrar batizados de brancos e de negros, na maioria escravos. Para a edição do material recorremos às normas postuladas em Megale e Toledo Neto (2005), com vistas a conservar o estado de língua do livro manuscrito na primeira metade do século XIX. Para inventariar e analisar as lexias características, a leitura dos contextos de viver de agências, de lavouras ou de negócios apontam ocupações profissionais da época; ou como cabra, crioulo, mina, forro, livre, ingênuo, escravo indicam origens étnicas e condições sociais frente ao regime escravista vigente. Lexias peculiares ao tipo do livro e à prática dos religiosos para o sacramento do batismo como pus os santos óleos, pároco colado também compõem o inventário e sua análise. Quando o contexto não recobre a significação, recorremos ao dicionário de Antônio Moraes Silva (1813) e ao de Clóvis Moura (2004), sobre a escravidão negra no Brasil. O estudo proposto insere-se, pois, na interface dos estudos filológicos e lexicais e responde à demanda de investigações, em diversas abordagens, da linguagem do vasto e ignoto acervo documental goiano, manuscrito em códices de natureza variada (Apoio FAPEG Processo 200910267000375). |