Resumo |
Neste trabalho, refinamos e ampliamos descrições de Guimarães (2011) acerca de restrições sobre modificação de adjetivos atributivos em Português. Suas generalizações demandavam desenvolvimentos ulteriores que ora implementamos, incluindo comparações com períodos anteriores do Português e com o Espanhol contemporâneo, reunindo elementos para uma futura análise em termos de variação paramétrica. Usaremos a Teoria Gerativo-Transformacional como metalinguagem, mas nosso objetivo agora é descrever detalhes de aspectos pouquíssimo estudados da língua.
Guimarães apontava que adjetivos pós-nominais podem ser modificados por um advérbio, formando um AP ramificado (1a/b), contrariamente aos pré-nominais (2a/b).
1a) Um homem muito alto chegou.
(1b) Um atleta muito grande chegou.
(2a) Um (*muito) belo homem chegou.
(2b) Um (*muito) grande atleta chegou.
Em seus dados, constam adjetivos tipicamente pré ou pós-nominais e de posicionamento flexível; advérbios intensificadores pré- (muito) e pós-adjetivais (demais); intensificadores sintaticamente complexos (pra caramba); e ainda aqueles do nível morfológico (-íssimo). Grosso modo, as generalizações em (1-2) valeriam para todos os casos, segundo o autor (exceto quanto aos modificadores morfológicos).
Diferentemente desses advérbios, verificamos que certos intensificadores que denotam avaliação subjetiva ou circunscrição temporal não apenas podem modificar adjetivos pré-nominais (3a/b), como podem tornar possível pré-nominalizar adjetivos pós-nominais (3c/d).
(3a) Aquela escandalosamente bela mulher sumiu.
(3b) O agora futuro prefeito está se preparando para assumir o cargo.
(3c) O motorista executou uma *(mega) proibida manobra.
(3d) A *(então) virgem mulher foi brutalmente estuprada.
Num trabalho paralelo, detalhamos essas novas generalizações, que corrigem e completam as de Guimarães. O que traremos de novo, e que será o nosso foco principal, é uma analise pormenorizada dos mesmos advérbios modificadores adjetivais originalmente estudados por Guimarães (i.e. muito e variantes), observando a evolução diacrônica de seu comportamento, bem como seu funcionamento numa língua aparentada, o Espanhol.
Encontramos construções equivalentes a (2a/b), inaceitáveis em PB contemporâneo, em corpora de Português Antigo, como vemos em (4a) e (4b), extraídos de um texto do século XVI:
(4a) E ajuntando um muito grosso exército na entrada deste Verão passado [...]
(4b) [...] ficando o Imperador já com um muito poderoso exército.
Encontramos, ainda, construções similares em descrições do Espanhol contemporâneo. Combinados, esses dados revelam que diferentes gramáticas exibem graus de restrição sobre possibilidades de modificação adverbial de adjetivos, em que identificamos subclasses de advérbios e de adjetivos e diferentes mecanismos (sintáticos e semântico-pragmáticos) de ordenamento, numa interação de fatores que faz emergir padrões mais permissivos ou restritivos quanto à modificação adverbial de adjetivos atributivos. |