Resumo |
As teorias da linguagem, apesar de terem como objeto de estudo as linguagens em seu sentido mais amplo, ainda encontram dificuldades para constituir de forma mais segura um caminho para a análise do "não verbal". Sob o arcabouço teórico da Análise do Discurso Francesa, inaugurada por Michel Pêcheux, intento discutir o papel da imagem em movimento (cinema) na produção de sentidos no discurso. De que forma ela comunica? Como se dá seu entrecruzamento com outras materialidades tais como a música e o texto escrito e falado? Como dotar de opacidade a imagem, e enxergá-la como acontecimento? Quais são suas condições técnicas de produção e como discursam?
A despeito da frequente aparição conjunta da imagem com a escrita, com a fala ou alguma outra sonoridade, a imagem possui uma matéria visual muito específica que a faz única enquanto materialidade discursiva. A imagem permite trabalhar o verbal e o não verbal, restituindo à materialidade da linguagem sua complexidade e multiplicidade de diferentes linguagens. Para avançarmos nos estudos da imagem discursiva, precisamos partir do conceito de "simbólico", que articulado com o político, trabalha na constituição do sentido, logo, do sujeito.
O cinema, enquanto materialidade discursiva, possui especificidades técnicas e constitutivas - campo, foco, montagem, decupagem, etc. - que também trabalham na constituição do sentido e do sujeito. Estas especificidades constitutivas do cinema buscarei na teoria de Ismail Xavier em sua obra "O discurso cinematográfico".
Assim, através da obra de Pêcheux e Orlandi analisaremos o trabalho da memória discursiva e das formações ideológicas - constituídas pelas formações discursivas, para que se possa analisar a imagem enquanto materialidade discursiva. A análise da imagem traz em si um conflito enunciativo entre o que se vê na superfície da tessitura visual da imagem e o que lhe está silente, abaixo desta superfície discursiva. Portanto, percebe-se aí o trabalho de ambos os esquecimentos - um e dois de forma mais intensa na imagem, pois que seu caráter de representação fiel e verdadeira de mundo faz parecer que o que ela diz é exatamente aquilo, que não existem derivas tampouco ambiguidades, desambiguizando outros sentidos que não aqueles enquadrados pela imagem. Assim, finalmente, para que sejam instauradas as interpretações sobre as imagens será necessário buscar suas regularidades não em seus produtos, mas sim nos seus processos de produção. |