Resumo |
A formação de leitores é uma das grandes preocupações educacionais na atualidade, no Brasil e no mundo. Como se deve formar um leitor e como fazê-lo é ainda objeto de discussões em diversas áreas científicas e educacionais. A importância dada à prática da leitura está interligada ao imaginário social que se tem a respeito dos benefícios desta prática para o indivíduo, que ultrapassam os aspectos intelectuais, uma vez que é concebida como aspecto decisivo da ascensão, do ponto de vista social e econômico dos sujeitos, dos cidadãos. A professora e pesquisadora Márcia Abreu (2001), em seu artigo Diferenças e Desigualdades: preconceitos em leitura, demonstra isso de forma muito coerente. Apesar de não ser possível estabelecer até onde a leitura pode influenciar um indivíduo e afetá-lo em sua vida, analisar os discursos sobre a leitura que circulam nos meios midiáticos permite-nos verificar como esse imaginário sobre a importância dessa prática para a formação do cidadão, para a melhoria de suas condições de trabalho frequentam a nossa percepção sobre a leitura e o ato de ler, de forma por vezes superestimada. Refletindo sobre esse imaginário, neste trabalho analisaremos alguns discursos sobre a leitura apreensíveis nos textos da Folhinha, particularmente aqueles produzidos no período da ditatura militar. Esse recorte é oriundo das análises que vimos realizando tendo em vista nosso projeto de mestrado intitulado Continuidades e descontinuidades nas representações do leitor mirim: uma análise das projeções discursivas do leitor da folhinha de 1963 aos dias atuais, no qual propomo-nos analisar as edições referentes ao dia das crianças do suplemento infantil Folhinha, ao longo de sua história, com vistas a apreender as representações de seu público alvo, na condição de leitores em formação. Nessas análises preliminares, verificamos uma relativa recorrência discursiva nos suplementos publicados no período da ditadura brasileira, a saber, aquela referente à defesa e o amor à pátria. Com base em princípios da Análise do Discurso francesa, e da História Cultural da leitura, em especial nas considerações de Roger Chartier (1990), buscaremos analisar as formas segundo as quais são representadas, nesse suplemento, as práticas de leitura pressupostas e fomentadas e os perfis de leitor objetivados. |