Resumo |
A partir da segunda metade do século XIX, o Espírito Santo recebeu um grande contingente de imigrantes, sobretudo europeus. Dentre os 43.929 estrangeiros entrados no Estado até 1900, 32.900 quase 75% do total eram provenientes do norte da Itália, especialmente do Vêneto (APEES, 2007). É inegável a importância desses imigrantes para a história e para a cultura do Espírito Santo; entretanto, no tocante à(s) língua(s) falada(s) por eles, faltam estudos que abordem as consequências do contato entre elas e o português, principalmente no que respeita aos fatores extralinguísticos aí envolvidos. Dessa forma, este trabalho tem por objetivo discutir a importância do isolamento/contato entre as comunidades de descendentes de imigrantes italianos e as de outras etnias, para a manutenção ou a substituição de traços fonético-fonológicos da língua minoritária no português, em dois dos aspectos em que essas línguas se diferenciam: a) a variação do fonema /r/; b) os ditongos nasais. A fim de alcançarmos o objetivo proposto, analisamos dados de fala de moradores das zonas urbana e rural de dois municípios do Espírito Santo fortemente colonizados por esses europeus: Marechal Floriano e Castelo. Para tanto, foram analisadas 120 entrevistas sociolinguísticas (LABOV, 1972) com esses moradores, divididos de acordo com: gênero (masculino e feminino), faixa etária (de 08 a 14; 15 a 30; 31 a 50; acima de 50 anos) e nível de escolaridade (com 0 a 04; 05 a 08; acima de 08 anos de estudo formal), sendo dois informantes em cada célula. Os dados obtidos por meio das entrevistas indicam que: a) nas zonas urbanas, a mudança em direção à substituição dos traços da língua minoritária em favor da majoritária o português está avançando rapidamente, sendo esses conservados apenas pelos mais idosos; b) nas zonas rurais, ao contrário, podemos encontrar a influência da língua de imigração até mesmo nos informantes mais jovens. Dessa forma, nossos dados confirmam os resultados de outros estudos de Contato Linguístico, realizados em vários países (WEINREICH, 1953; CHAMBERS e TRUDGILL, 1980; FASOLD, 1996; MONTRUL, 2013; etc.), que apontam para a importância do fator procedência geográfica, em geral, e do contato entre falantes de diferentes etnias, em particular, na manutenção/substituição das línguas minoritárias. |