62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Cantigas de ninar e a tradição oral |
Autor(es): | Cristina Martins Fargetti. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | língua juruna, língua juruna, análise linguística |
Resumo |
Gênero pouco estudado, não se conhece, até o momento, menção a exemplos de ocorrência entre povos indígenas, com exceção do Projeto “Acalanto: as canções das mulheres indígenas do Rio Negro”, de Ricardo Sá[1], relativo ao Alto Rio Negro, que, contudo, não apresenta uma análise e tradução do material recolhido. Quando origens indígenas são mencionadas em algumas obras, são, de maneira geral, tratadas como folclore, incluindo-se no discurso do “índio”, imagem homogênea, veiculadora de preconceitos e reduções. Assim, espero que este estudo suscite novas pesquisas, trazendo à luz algum conhecimento sobre o assunto entre povos indígenas brasileiros. Com o intuito de uma comparação, que, por um lado diminua o estranhamento, fazendo cair por terra preconceitos com relação a temas pouco “infantis” e, por outro, o acentue, a ponto de se perceberem as diferenças estruturais de tais cantigas, apresento considerações sobre as origens das cantigas de ninar brasileiras, dialogando com tradições de culturas europeias. Para estas, me limito a discutir e analisar material já recolhido por diversos autores, apresentando também algum material de minha própria recolha. Canez (2008), ao discutir, de maneira geral, as cantigas de embalar, afirma que elas permitem um primeiro contato da criança com a língua de seus pais, o que ajudaria em sua aquisição, pela familiaridade com os sons de vogais e consoantes presentes nas letras. Entretanto, sou de opinião de que tais cantigas, primeiramente, são percebidas apenas enquanto melodia e ritmo, não sendo compreendidos os seus significados, pouco importando as suas letras. É seu andamento calmo, sua melodia às vezes tristonha e seu ritmo repetitivo que acalmam, levam ao sono, pouco importando o que digam com suas palavras. Isso, sim, deve ser um traço universal, em qualquer cultura. Caso contrário, devido a seus temas ora amedrontadores, ora de fundo sexual, entre outros, poderiam despertar, afastar o sono dos pequenos. Corroborando essa hipótese, temos também, nas cantigas de ninar dos juruna, temas que podem causar medo e, além disso, em muitas delas, a letra cantada não se encontra plenamente na língua juruna: são momentos em que bichos cantam, usando, para isso, uma língua juruna com erros, agramatical. Portanto, nenhuma mãe esperaria que seu filho falasse dessa forma, pois estaria falando como um bicho, não como um humano. [1] http://www.attema.com.br/sites/acalanto CANEZ, A. Canções de embalar – Cultura e Tradição : um estudo sobre (con)textos da maternidade na (e)terna lírica popular. Lisboa: Edições Colibri, 2008. |