Programação do 62º seminário do GEL

O português é a língua oficial em Moçambique, mas concorre com as mais de vinte Línguas Bantu (LB) faladas pela maioria da população. Os alunos enfrentam problemas de escrita resultantes do impato da tradição oral, pela fraca formação dos professores, da baixa qualidade dos materiais de ensino e pelo uso do português como segunda língua. Segundo Cagliari (2009a,b) todas as atividades escolares se baseiam na escrita. A escrita alfabética “é, assim, uma escrita de base fonológica, ou seja, toma como referência uma representação abstrata da articulação sonora da língua e não propriamente sua pronúncia” (FARACO, 2012, p.56). Questões inerentes à influência das LB confundem a escrita de muitos alunos e aqueles que não dominam a escrita enfrentam dificuldades em todas as disciplinas curriculares, isto porque, as provas e os exames baseiam-se na escrita. Sendo assim, questiona-se quais as propostas metodológicas, os manuais escolares apresentam para o ensino da ortografia? Quais os problemas resultantes dessa metodologia e como melhorar o trabalho docente? O objetivo da pesquisa foi de analisar as questões ortográficas em sete manuais de ensino primário. Levantou-se a hipótese de que os problemas que fazem com que os alunos cometam mais erros ortográficos resultam da metodologia sugerida pelos manuais escolares. Da análise dos manuais se concluiu que é necessário uma revisão da metodologia do ensino da ortografia nas escolas moçambicanas; é urgente a integração da metodologia da ortografia nos cursos de formação de professores; é urgente a divulgação do novo acordo ortográfico (ratificado pelo Governo de Moçambique em 2012) que ainda é desconhecido; no estudo da iniciação à escrita, os manuais escolares apresentam vários alfabetos ao mesmo tempo, fato que confunde e dificulta a memorização da escrita dessas letras. Desta forma, os manuais escolares obrigam que a criança domine a ortografia, logo nas classes iniciais, fato que não vai de acordo com o desenvolvimento intelectual da criança. Seria importante que o professor procure outros exercícios complementares para que a criança aprenda a ortografia, porque os exercícios propostos pelos manuais são poucos. Seria importante que o erro seja tolerado na escola moçambicana, pois faz parte do processo de aprendizagem e “nenhuma escola será letradora se seus professores não forem eles bem letrados” (FARACO, 2012, p.104). Faraco acrescenta que é impossível desenvolver nos alunos as práticas sociais de leitura e de escrita sem que os professores sejam leitores maduros e pessoas que dominem a escrita com autonomia.