62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | AÍ, DAÍ e ENTÃO: uso variável em estratégias de coesão e interação discursiva |
Autor(es): | Marília Silva Vieira. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | variação, variação, Gramaticalização |
Resumo |
Com base em uma amostra de 48 entrevistas, realizadas nas capitais Campo Grande (MS) e São Paulo (SP), analisa-se o uso variável de AÍ, DAÍ e ENTÃO como articuladores de orações. A partir dos postulados de Traugott e Heine (1991) acerca da gramaticalização de operadores argumentativos, pressupõe-se que tais elementos tenham percorrido o trajeto espaço > (tempo) > texto, alcançando, ainda, um estágio posterior, o do discurso. Desse modo, AÍ, DAÍ e ENTÃO atuam como advérbios (“o mundão está AÍ, né?”; “a gente sente fragilizado nisso DAÍ”; “saí do bairro e, desde ENTÃO, não fui mais na casa dela”), como conectores e partículas anafóricas. Para Traugott e Heine (1991), no processo dêitico-discursivo, ocorre transferência do contexto situacional externo ou referencial para o contexto discursivo interno, resultante do conhecimento compartilhado por falante e ouvinte. Este trabalho pretende demonstrar, nos termos da Sociolinguística Variacionista (Labov, 2001) e de teorias sobre gramaticalização (Givón, 1995), a intercambialidade desses itens em cinco contextos linguísticos: 1) Sequenciação ordenativa (“eu estava no ônibus aí/daí/então sentou um moleque... (...) do meu lado”); 2) Sequenciação não-ordenativa (“trabalho por conta aí/daí/então quando tem o serviço eu vou e faço, quando não tem eu fico em casa”); 3) Causa e efeito (“ele falava que eu era de Campo Grande aí/daí/então ficava difícil as pessoas não saberem isso”); 4) Repetição de tópico discursivo (“já fui pra Americana, mas só fui a trabalho, que teve uma feira né? da Darling aí/daí/então eu peguei e fui”); 5) Síntese (“não sei, acho que São Paulo tem muita contradição, aí/daí/então é isso”). Nos três primeiros contextos, AÍ, DAÍ e ENTÃO atuam como juntivos; nos últimos dois, como marcadores discursivos. De acordo com Braga & Paiva (2003), quando comparados aos juntivos, os marcadores discursivos são formas mais gramaticalizadas; consequentemente, têm carga semântica enfraquecida e apresentam menor mobilidade sintática. Desse modo, a análise qualitativa dos dados dirige à sua organização em dois envelopes de variação, que se definem não só pelas especificidades desses dois conjuntos, mas também pela necessidade de discutir, teórica e metodologicamente, os limites funcionais de AÍ, DAÍ e ENTÃO nos pontos focais (juntivo e marcador discursivo) e contextos considerados. Atentando para a existência de correlações entre esses itens, os contextos discursivos elencados e os fatores estruturais e sociais, as análises quantitativas do Goldvarb X (Sankoff et al., 2005) identificarão convergências e divergências no uso de tais elementos em Campo Grande e São Paulo. |