logo

Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: A tradução, o oco e as escoras
Autor(es): Paulo Sérgio de Souza Júnior. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 23/11/2024
Palavra-chave psicanálise, psicanálise, não-saber
Resumo

A reviravolta que, ao longo do tempo, alguns estudos sobre tradução foram produzindo — na medida em que apontaram para uma revogação, no domínio do texto, das garantias da originalidade — fez com que se começasse a depreender que uma diferença basilar entre o original destituído e o suposto na condenação das belles infidèles é que, no segundo caso, o original acaba por ser visto como um impedimento e, por isso mesmo, justamente como sendo a suposta caução de uma certeza na prática tradutória. Ora, acaso o original não opera justamente como algo cuja lei por ele instituída — e que não se aplica a ele próprio, pois seria de sua natureza gozar dos direitos em princípio inalienáveis de sua originalidade — delimita o alcance das suas traduções, garantindo-as, assim, de uma certa forma? Com isso, ao reconhecer a atividade tradutória como sendo uma prática cujo expediente é o atravessamento de fronteiras, a unidade do objeto da tradução se vê radicalmente prejudicada, e a questão do ideal tradutório encontra-se subvertida por meio de um exercício com o próprio limite, a saber: assumir aquilo que, na língua, não afiança — o não idêntico (em termos jakobsonianos, digamos: a semelhança na diferença); o não unívoco (em termos lacanianos, digamos: o fato de que um significante só remete a outro significante); o ex-cêntrico (em termos freudianos, digamos: o fato de que o Eu, a partir da descoberta do inconsciente, já não é senhor em sua própria casa). E assim, graças ao que não se sabe sabendo daquilo que se faz enquanto tradutor, talvez se vislumbre, com efeito, a possibilidade de implementar numa língua os ocos que outrora ditaram, numa outra, tanto o impossível de dizer quanto o impossível de não se dizer de uma certa maneira — lindes que, a depender de como se os enxerga, podem mais garantir do que impedir a passagem de uma língua à outra.