62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | A expectativa |
Autor(es): | LUIZ CARLOS CAGLIARI. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Linguística cognitiva, Linguística cognitiva, O não dito |
Resumo |
A semântica tradicional tem estudado de modo bastante detalhado o significado linguístico nas suas diferentes manifestações. Podemos ver esses estudos em quatro grupos: aquele que trata do significado literal e aquele que trata do significado não dito, mas expresso através de estruturas linguísticas, como o pressuposto, a conotação, etc. Um terceiro grupo engloba os estudos pragmáticos que acrescentam sentidos a partir do uso, como as implicaturas, e um quarto grupo se interessa pelos mecanismos mentais (frames, blending, etc). Existe, porém, um fato semântico, definido aqui como “expectativa”, que é usado, em geral, para explicar desvios de interpretação e que não se confunde com fatos semelhantes, como os mencionados acima, que sempre estão atrelados a uma expressão linguística na fala. A expectativa, a que se refere este trabalho é uma invenção mental, motivada por razões da vida das pessoas e da sociedade e não necessariamente pelos elementos linguísticos do discurso. A expectativa só entra em um discurso quando é explicitada verbalmente. Normalmente, esse tipo de ideia permanece na mente do falante ou do interlocutor, mas pode ser detectado através do comportamento das pessoas, não apenas através da fala. A expectativa pode ser uma visão de mundo cumulativa, moldando a história da mente das pessoas. O consenso social também é um tipo de expectativa. A escravidão já foi um consenso para muitos povos e eles, portanto, não estranhavam essa prática. Há várias expressões e palavras que sinalizam a presença de uma “expectativa”. Parte importante do trabalho é categorizar essas palavras. Há basicamente dois tipos de expectativa: a do falante e a do ouvinte. Por exemplo, a surpresa é uma interpretação de algo que não deu certo, devido à ignorância diante da realidade ou, simplesmente, porque se esperava que as coisas fossem diferentes. Há expectativas que são facilmente compartilhadas por grupos de pessoas e expectativas que são elaboradas apenas na mente de indivíduos. Há expectativas que acabam mostrando uma realidade acontecida, como há expectativas que revelam uma frustração do que a pessoa pensava. Há expectativas esperançosas, muitas vezes, fruto da imaginação e, não raramente, de superstição, de crendice ou de desejos. O presente trabalho é um primeiro passo na definição e caracterização teórica da ideia de “expectativa”, como assumida na definição da mesma neste trabalho. (Apoio CNPq proc. 304170/2013-5) |