logo

Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: Localidade na história do português: a seleção do auxiliar
Autor(es): Marcus Vinicius da Silva Lunguinho. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 27/07/2024
Palavra-chave Seleção do auxiliar, Seleção do auxiliar, Núcleos funcionais
Resumo

As construções de tempo composto do Português Arcaico apresentam o seguinte padrão de uso dos verbos auxiliares: nas sentenças cujo verbo principal é transitivo ou inergativo, os auxiliares usados com o particípio são haver/ter e, nas sentenças cujo verbo principal é inacusativo, o auxiliar utilizado é ser. Esse fenômeno de alternância de auxiliares em construções perifrásticas é denominado seleção do auxiliar (MacFadden 2007). Meu objetivo neste trabalho é analisar o mecanismo de seleção de auxiliares do Português Arcaico a partir dos pressupostos da Teoria Gerativa, em sua versão minimalista (Chomsky 1995 e trabalhos posteriores). Duas são as questões o norteiam:

a) Que fatores regem a seleção do auxiliar no Português Arcaico?

b) Como se dá a derivação das sentenças perifrásticas nessa fase do Português?

Para responder a primeira pergunta, proponho que a seleção do auxiliar do Português Arcaico é sensível à estrutura argumental do particípio (D’Alessandro & Roberts 2010). Para responder a segunda pergunta, assumo que os particípios que aparecem nessas construções são de natureza passiva (Ackema 2000) e que funcionam como complemento de um verbo auxiliar abstrato (v). Proponho que haver/ter sejam analisados como auxiliares transitivos (Hoekstra 1984, 1994, 1996; Lois 1990; den Dikken 1994), que resultam da interação de v com o núcleo funcional Voice, que introduz o argumento externo e valora Caso Acusativo (Chomsky 1995, Kratzer 1996). Dessa forma, haver/ter são tratados como verbos derivados (Kayne 1993; Kempchinsky 1996 e Torrego 2002), que resultam de uma relação local entre v e Voice, a saber, adjacência (Bobaljik 1994). Em predicados inacusativos, como não há a projeção de Voice, resulta que o único auxiliar usado nesse contexto é ser. Com isso, chego à conclusão geral de que o que está por trás da seleção de auxiliares no Português Arcaico são restrições de localidade. Essa proposta é expandida para a derivação das passivas, na qual adoto uma variante da análise de Collins (2005) e assumo que nas passivas ocorre o inverso do que ocorre nas ativas: o argumento interno de Voice é um DP e o seu argumento externo é o complexo [v-particípio]. Como v e Voice não estão adjacentes, o auxiliar usado é ser. Este trabalho abre uma nova perspectiva de tratamento para os diferentes auxiliares (do Português Arcaico) ao considerá-los não como primitivos sintáticos, mas como o resultado de restrições de localidade na interação entre núcleos funcionais presentes no curso da derivação.