Programação do 62º seminário do GEL

Assiste-se atualmente a uma intensa precarização do trabalho humano global, fruto das profundas transformações que assolaram o mundo do trabalho a partir da crise estrutural do capital, no final dos anos 1970. Sob a rubrica de capitalismo flexível, que prometia recompor o esgotamento fordista/taylorista de produção, o estado viu-se obrigado a se afastar do papel de regulador da economia e assistiu ao mercado entronizar-se como o agente dessa desregulação. Esse empreendimento, conhecido como neoliberalismo, empenhou-se em construir a aparência de uma sociedade descentrada em relação à categoria trabalho, de tal modo que não ficasse explicitada a desconstrução efetivada nas formas de materialidade, subjetividade e identidade dos trabalhadores. A educação no Brasil, à semelhança do que ocorreu com o trabalho, foi atingida incisivamente, ao longo dos anos 1980, por esse ideário neoliberal. Desde então, em função de uma essência despolitizada, vem recebendo uma roupagem mercadológica, calculada para ser flexível e estruturada por critérios de eficácia organizacional, caudatária da chamada “gestão da qualidade total”, programa que originou os processos de qualidade total, flexibilização e trabalho participativo na esfera empresarial nos anos 1990. Esta comunicação tem por objetivo analisar, sob uma perspectiva discursivo-ergológica, algumas manifestações verbais presentes no discurso midiático que tematizaram essa questão, ao longo de 2011, 2012 e 2013. O referencial teórico-metodológico da pesquisa se ancora na análise do discurso de base enunciativa (cf. Maingueneau, 2005), na abordagem ergológica (cf. Schwartz; Durrive, 2010), e nas visões críticas de Antunes, 1995; Chauí, 2000; Gentili, 2002, dentre outros. A análise de um corpus restrito, realizada com base nas categorias de interdiscurso, práticas discursivas, ethos, e de conceitos da ergologia como saberes constituídos e investidos, dispositivo de três polos e dramáticas e uso de si, permitiu entrever que algumas das mutações que se operaram no discurso da qualidade no campo educacional brasileiro, ao longo dos últimos anos, produziram uma nova retórica conservadora que atingiu e alterou as identidades daqueles que mais sofrem as consequências do êxito dessas políticas conservadoras: professores e alunos.