62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Flores do oriente: a linguagem do estupro na guerra revisitada |
Autor(es): | Cláudia Maria Ceneviva Nigro. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | cultura, cultura, filme |
Resumo |
Ao discutir processos linguísticos, em que os valores das formas culturais se mantem nos grupos sociais, Asif Agha (2003) afirma que todo registro linguístico exibe seu momento de glória e de declínio em várias dimensões. Norteada por esse pensamento, proponho aqui verificar como se dá o retorno do significado da palavra estupro em um fato histórico ocorrido em 1937 (O Massacre de Nanquim, cujas maiores vítimas foram mulheres chinesas), no filme de guerra chinês de 2011, dirigido por Zhang Yimou, intitulado As Flores do Oriente. O filme é baseado no romance 13 Flores de Nanquim, de Geling Ian, inspirada por um diário histórico de Minnie Vautrin, uma missionária norte-americana. Tanto no episódio histórico como no filme, persigo a palavra estupro e seus significados. Assim o faço, pois do século passado para cá, o uso da palavra mencionada sofreu mudanças significativas, relacionadas às políticas de guerra (onde o estupro era permitido por “dar aos soldados a vida que lhes faltava”) e à revisitação da cultura do patriarcalismo, fornecida pela cultura norte-americana, responsável pelos direitos da distribuição da produção cinematográfica (Wrekin Hill Entertainment). Lançado em janeiro de 2012, tendo como “protagonista” o ator Christian Bale, no filme o estupro surge como uso comum de procedimento dos soldados japoneses, trazendo assim o passado existente, expandido e estendido pela visão dos norte-americanos. Ao ódio Chinês (pelas guerras Sino-Japonesas), soma-se o ódio americano (por Pearl Harbor). A palavra estupro traz uma nova abordagem ao próprio ato, classificado e descrito como uma violência singular, agora não justificada. O estilo da vida contemporâneo ocidental incorpora-se aos tipos sociais: a figura do soldado japonês que pode tudo na guerra e a figura das mulheres prostitutas e estudantes - população sobrevivente no local da guerra. Às mulheres de Nanquim e seus dramas, apenas computadas como número em 37, são dadas as oportunidades de se apresentarem em contextos específicos, tendo a cada indício de estupro, ou apropriadamente um estupro, um testemunho vivo do modo como a sociedade fracassou em defender as mulheres dos abusos sexuais. |