62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | As ciências na terceira margem da tradução |
Autor(es): | Rita Elena Melian Zamora. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | ciencias sociais, ciencias sociais, tradução científica |
Resumo |
ï»Â Neste trabalho falamos sobre questões de tradução e terminologia das denominadas ciências sociais e humanas. Os atuais estudos sociais, assim como a linguagem ou terminologia que utilizam, parecem se encontrar, como na obra de Guimarães Rosa, na terceira margem do rio, ou seja, em plena corrente. A ideia dessa terceira margem nos leva a pensar em um estado de indefinição, de incomensurabilidade, de constante percurso e transformação, de pluralidade de direções e sentidos, e, inevitavelmente, de equÃvocos. A tradução cientÃfica tem considerado sempre as margens como portos seguros da terminologia cientÃfica, para buscar definições precisas com as quais poder nomear. Porém, para pensar a tradução e terminologia cientÃfica das sociedades, parece-nos mais adequada a ideia de habitar - a despeito da falta de garantias - essa terceira margem. Esta ideia foi motivada pela noção de perspectivismo amerÃndio proposta pelo etnógrafo Eduardo Viveiros de Castro, de cujas principais noções adotamos a ideia do equÃvoco para pensar a tradução, não apenas antropológica, como sugere o autor, mas a tradução e terminologia das ciências sociais em geral. A partir dessa perspectiva, traduzir ciências sociais seria, parafraseando o autor, aceitar que sempre há equÃvocos ou mal-entendidos inevitáveis que devem ser enfatizados e potencializados, nunca igualados com os nossos termos, seria ampliar o espaço que imaginamos não existir (ou que se oculta) entre as lÃnguas em contato. Portanto, traduzir por meio de equÃvocos seria aceitar que entendemos perfeitamente os outros quando falam sobre “parentesco”, “irmão”, “relação”, “corpo”, “participação”, “morte”, “bicho”, e outros universais homógrafos ou fonológicos. Porém, como diria o etnógrafo, o que eles querem dizer com isto é outra história. Permanecer na indefinição, como o pai de famÃlia no conto de Guimarães Rosa, é um desafio e uma necessidade para as ciências sociais em geral. Elas, assim como a tradução, devem aprender a aceitar e valorizar esse equÃvoco ou essa indefinição da terceira margem, pois proporciona a ideia de uma comunicação cientÃfica e de uma Terminologia além das palavras, que não silencie ou iguale a história do Outro, e que, ao invés de se centrar na busca das equivalências tradutórias, aceite e destaque as diferenças por meio das quais pode haver entendimento e um enriquecimento epistemológico. |