62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | O discurso autobiográfico e a literatura: aproximações e distanciamentos |
Autor(es): | Mariana Luz Pessoa Mariana Luz. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | semiótica, semiótica, contrato enunciativo |
Resumo |
Com o objetivo de refletir acerca das relações entre o discurso autobiográfico e a literatura, apresentamos uma análise semiótica de gêneros autobiográficos diversos (memoriais acadêmicos, romances autobiográficos e poemas de caráter autobiográfico), que participam de, ao menos, duas esferas da comunicação: a acadêmica e a literária. O exame do corpus possibilita propor duas formas discursivas de memória como categoria analítica das relações entre enunciador e enunciatário no discurso autobiográfico: a memória do acontecido e a memória-acontecimento. Na memória do acontecido, sugere-se que o enunciatário se aproxime do texto pelo viés da inteligibilidade. O enunciador oferece uma forma de construir o mundo que cria o efeito do conhecido, o que gera conforto. A produção da ilusão referencial é um dos procedimentos empregados. Na memória-acontecimento, é estabelecido um contrato enunciativo baseado nos afetos e nas sensações. O enunciatário é “capturado” por meio do susto, do impacto. A criação de formas de dizer inovadoras, algo próprio do fazer estético, contribui para o fortalecimento do vínculo do enunciador com o discurso, o efeito é de que surgem no momento do encontro entre homem e mundo, e não antes disso. Por apresentar-se como um discurso que ressignifica a linguagem, o discurso estético faz ainda com que a ilusão referencial perca a importância, pois são criadas outras regras para a avaliação do que é dito. No entanto, as relações entre os parceiros da comunicação não são estanques, pois as diferentes organizações discursivas da memória – a memória do acontecido e a memória-acontecimento – convivem em cada texto. É justamente a tensão entre essas duas memórias, entre essas duas formas de conhecer e produzir o mundo, que parece ser fundadora dos gêneros autobiográficos, o que nos autoriza a falar apenas em dominância. Naqueles que circulam na esfera literária, predominam a memória-acontecimento e os contratos enunciativos estéticos e passionais; enquanto nos que fazem parte da esfera acadêmica prevalecem a memória do acontecido e os contratos mais baseados no inteligível. |