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Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: A tradução brasileira de GiovanniÂ’s room, de James Baldwin: as relações entre estética, homossexualidade e recepção
Autor(es): Lauro Maia Amorim. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024
Palavra-chave Estudos da Tradução, Estudos da Tradução, Giovanni's room
Resumo

Esta comunicação integra um projeto de pesquisa mais amplo acerca do papel da tradução na recepção de obras da literatura afro-americana no Brasil e sua relação com questões de identidade, discurso e estética sob o enfoque dos Estudos da Tradução. Analisa-se a tradução do romance Giovanni’s room (1956)¸ do escritor afro-americano James Baldwin (1924-1987), realizada por Affonso Blacheyre e publicada, em 1967, com o título Giovanni, pela editora Civilização Brasileira. James Baldwin, um dos maiores escritores norte-americanos do século XX, é reverenciado por sua atuação contra o racismo no Movimento dos Direitos Civis. Escreveu diversos ensaios acerca do lugar do negro na sociedade norte-americana, além de romances e contos que retratam as contradições de uma sociedade democrática na qual os negros são sistematicamente marginalizados. Apesar do reconhecimento de seu valor literário, Giovanni’s room, o segundo romance de Baldwin, foi rejeitado por sua editora por abordar abertamente a homossexualidade. Nele não há personagens negros; a homossexualidade é vivida entre brancos, que vivem, na maior parte da narrativa, em Paris. A tradução de 1967 inclui, nas orelhas do livro, um texto assinado pelo jornalista Paulo Francis, que louva o “trabalho com a linguagem” em Giovanni, em contraste com a dimensão crítico-política do Baldwin do “antirracismo negro.” A obra é apresentada mais pela perspectiva de sua força estética, do que pela possível visão de que ela seria um marco literário em torno da identidade homossexual, e dos conflitos sociais e existenciais dela advindos, retratados antes mesmo do fervor político-social dos anos 60. A tradução, por exemplo, tende a elevar o registro das falas dos personagens, fazendo com que o texto sugira um tom de sofisticação maior do que o do próprio texto original. Em conclusão, tanto a apresentação da obra por Francis quanto a linguagem mais sofisticada da tradução parecem corresponder à necessidade de divulgar o texto de Baldwin por uma perspectiva fundamentalmente estética e não voltada para a sua natureza crítica em relação à marginalização da homossexualidade. Explica-se essa leitura pelo fato de que os discursos de fortalecimento de identidades (sejam elas sexuais, de gênero ou étnicas/“raciais”) eram pouco desenvolvidos no Brasil da década de 60. Além disso, o enfoque central dado à natureza estética da obra a torna menos chocante aos leitores mais conservadores da época, especialmente no contexto da ditadura militar vivida no país.

 

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