62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Saussure, Whitney e a desnaturalização da linguística |
Autor(es): | Bruno Bohomoletz de Abreu Dallari. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Saussure, Saussure, naturalismo linguístico |
Resumo |
O linguista norte-americano William D.Whitney (1827-1894) é o único autor que pode ser apontado direta e inequivocamente como fonte do pensamento linguístico saussureano. Enquanto são muito raras as menções a autores nos textos saussureanos, Whitney é citado expressamente em mais de uma passagem do CLG (Curso de Linguística Geral) e os manuscritos editados nos Escritos de Linguística Geral contêm o rascunho de um artigo inteiro dedicado a ele. Se, por um lado, é possível apontar elementos que caracterizam Whitney como um precursor de Saussure, por outro, há aspectos a respeito dos quais Saussure toma decididamente um rumo próprio. O que coloca a questão: Em que medida Whitney pode ser considerado como provendo as formulações elementares da linguística saussureana, em que medida e por quais razões o pensamento saussureano se afasta e se distingue dessa referência? Whitney critica publicamente o naturalismo linguístico alemão, então hegemônico, de Max Muller e Albert Schleicher, que postulava um caráter orgânico-fisiológico para a linguagem e inscrevia a história das línguas na caracterização darwiniana da evolução das espécies. A crítica de Whitney não terá ainda, no entanto, alcance suficiente para suscitar a superação desse ponto de vista pelos linguistas praticantes, o que só acontecerá a partir do surgimento dos neogramáticos. Seu livro Life and Growth of Language, publicado em 1875, proverá o linguista iniciante Ferdinand de Saussure de elementos críticos e de uma base geral para desenvolver a linguística numa direção anti-naturalista e também toda uma caracterização dos fenômenos linguísticos que antecipa e prenuncia a transição de uma linguística das línguas para uma linguística geral. Muitos dos elementos que constam do CLG aparecem expostos no livro, inclusive a formulação fundamental na qual Whitney caracteriza as palavras como sendo “signos” e cada um destes como sendo “arbitrário e convencional”, desnaturalizando a linguagem e inscrevendo-a no plano dos eventos sociais. Embora assimile o sentido global da perspectiva de Whitney, Saussure a considera sem espessura no que concerne à caracterização do objeto e à postulação de um método investigativo mais rigoroso. Enquanto Saussure enceta o percurso investigativo que vai levá-lo à sincronia, à teoria do valor e ao caráter sistêmico da língua, ele considera a perspectiva de Whitney correta, mas pouco elaborada, muito próxima do “senso comum”. Enquanto, para Whitney, a questão da cientificidade da Linguística é secundária, para Saussure é decisivamente importante, como motivação e como componente estruturante de todo o seu projeto. |