62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Um útero é do tamanho de um punho, ou sobre as interdições do feminino |
Autor(es): | Gisele Novaes Frighetto. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | poesia brasileira comtemporânea, poesia brasileira comtemporânea, interdiscursividade |
Resumo |
Um útero é do tamanho de um punho (2012) é o segundo livro Angélica Freitas, feito de poemas marcadamente caracterizados pela reinvenção de técnicas modernistas, como o experimentalismo linguístico, o emprego de linguagem coloquial, a interdiscursividade como recurso poético (BAKHTIN, 2003) e a comicidade irreverente. Destaca-se a unidade temática do trabalho, que tem como assunto as representações do feminino e o exame dos discursos e seus mecanismos de valoração e distinção entre gêneros, dividido em 7 subtítulos que agrupam poemas afins ou nomeiam poemas longos: Uma mulher limpa, Mulher de, A mulher é uma construção, Um útero é do tamanho de um punho, 3 poemas com o auxílio do Google, Argentina e O livro rosa do coração dos trouxas. Este trabalho teve por objetivo perceber como a reescrita da tradição modernista e como as interdições do feminino estão esteticamente configuradas no poema-título, um útero é do tamanho de um punho. Nele, a construção do feminino na sociedade latino-americana contemporânea é tematizada em versos livres, compostos em letras minúsculas e sem pontuação, cujo ritmo vertiginoso e fluidez enunciativa configuram uma espécie de prosaísmo poético, no qual colagens e livres associações semânticas nos remetem ao absurdo e ao infantil. Os discursos médico, popular, midiático e científico acerca do útero, que reduzem a mulher ao órgão reprodutor e à função social de mãe, podem representar o que chamamos de violência simbólica (BOURDIEU, 1999) exercida pelas vias da comunicação e do conhecimento, na qual a condição feminina inferiorizada é naturalizada. Por sua vez, explora-se no poema a concepção biologizante da mulher (BEAUVOIR, 1967), definida por seu aparelho reprodutor e por sua função na reprodução da espécie, o que implica determinados comportamentos e, sobretudo, a alienação da mulher de si mesma enquanto indivíduo autônomo. Representa-se, assim, em um útero é do tamanho de um punho, um sujeito lírico rarefeito, cuja subjetividade cede lugar à primazia do útero, dos sujeitos e dos discursos privados e públicos que sobre ele incidem (SCHWARZ, 2002), de forma análoga à alienação da mulher de seu corpo e de sua experiência. A retomada de procedimentos modernistas não corresponderia, aqui, a uma “retradicionalização frívola” (SIMON, 2008), mas à configuração poética de uma realidade sociocultural onde a forte tradição patriarcal ainda relega a mulher ao papel de segundo sexo. |